quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma velha história

Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br


Fim de semana modorrento, um calor insano que ventilador ou ar condicionado nenhum consegue amainar, às vésperas de mais um carnaval.
A única solução é beber bastante água de coco e ficar zapeando pela tevê a procura de um assunto interessante.
O que surge na telinha prende minha atenção e me assusta, numa reportagem enorme sobre profecias e algumas vagas informações científicas que dizem que este nosso mundinho de Deus de 2012 não passará.
Demoro a cair na real e fico pensando que quando era menino as pessoas diziam que acabaríamos ora debaixo d´água ou no fogo e que de 2000 não passaríamos.
A matéria fala dos maias, de uma tribo de índios americanos, de indus, de Nostradamus, cientistas pouco conhecidos, choque de um asteróide com o planeta e atividade solar...
Esta salada fantasiosa, com resquícios de veracidade, me faz lembrar meu pai que sempre foi um homem muito pragmático e que sempre dizia que profecias eram desvarios, seus autores eram incapazes de prever seu próprio destino e que tinham mais aceitação na medida em que fossem mais enigmáticas.
A raça humana acabará um dia, como já aconteceu com diversos seres que habitaram a Terra. O planeta também, pois mesmo gigantescas estrelas são engolidas por buracos negros ou vitimadas pela sua força gravitacional.
Afinal de contas, tudo é finito, menos o espírito.
Por conta dessas teorias estapafúrdias fanáticos aglutinam seguidores e o final é sempre de descrença e tragédia...
Mais importante para mim agora na telinha é a história de uma dona de casa bonitinha, com umas gordurinhas a mais, que quer recuperar sua auto-estima no verão e vestir um biquinininho bem sensual.
Acaba nas luzes da mídia, vitimada por magarefes, que por preço aviltado praticam procedimentos cirúrgicos de que só ouviram falar.
E lá vai mais uma mulher engraçadinha vitimada por operação plástica que parecia ser tão baratinha...
Os autores da carnificina nunca serão punidos, como já se tornou...
E as crianças que desaparecem sem nunca mais dar notícias? O que acontece com elas? Tornam-se novos Peter Pan, perdidos na Terra do Nunca?
Por incrível que pareça, as vésperas do mundo acabar, segundo pessoas bem informadas a maioria delas é vitimada por rituais de Magia Negra...
Ainda bem que na alta madrugada sintonizo um canal onde Chico Pinheiro, José Renato, ex- Boca Livre, e Vanderléia, a Ternurinha, batem papo sobre música.
Eu que durante muito tempo tive traumas por ser apaixonado por bossa nova e rock, tudo ao mesmo tempo, vejo com prazer o compositor afirmar que música é principalmente atitude.
E não é a nossa vidinha uma velha história, sempre uma reação ou maneira de ser diante das situações?
Desligo meu eletrodoméstico e penso que um estudioso de Nostradamus bem poderia encontrar uma centúria que indique que tudo vai se acabar bem longe do amor e alegria, de preferência numa Quarta-Feira de Cinzas...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O fim da trapizonga do Tró-ló-ló


Pedro Coimbra
           
Dizem que Santana naqueles tempos era uma corrutela onde se escondiam portugueses, paulistas, índios, negros e aventureiros vindos de todos os locais do mundo conhecido. Quase sempre os primeiros trabalhavam de sol a sol e os outros viviam de espertezas.
            Jean Claude Troisgros surgiu de um dia para outro, com roupas estranhas e um perfume exalando um forte odor e fala enrolada. Para uns dizia-se francês e para outros prussiano.
            Como muitos parecia ter vindo a procura do ouro e das pedra preciosas nos rios e riachos das serras, mas queria mesmo era depenar os trouxas nas mesas de jogos.
            Mas uma coisa todos reconheciam nele: era o melhor de todos com uma espada na mão.
            Um dia, juntou sua tropa de mulas, escravos, índios e muitas mulheres e se mudou para a beira do rio, debaixo de um frondoso jacarandá.
            Em pouco tempo construiu uma grande casa, cheia de quartos, uma enorme cozinha e uma grande senzala para abrigar os serviçais escravos negros.
            Festas memoráveis, grandes orgias, lugar seguro para os potentados da época, naquela que foi considerada pelos historiadores a primeira casa de tolerância da Capitania das Gerais.
            Contava ele mais de oitenta anos quando morreu de morte natural, deitado com uma bugrinha sem vergonha, em uma rede.
            Aos poucos todos os agregados deixram a casa, que por falta de herdeiros foi se acabando.
            Até que apareceu Joaquim Tró-ló-ló que tinha esse apelido pelo tamanho descomunal do seu traseiro. 
            Era o melhor mestre de obras daquelas paragens e tudo o que sabia aprendera na Corte com os oficiais portugueses que embarcaram na aventura de Dom João VI, Rei de Portugal que corria dos franceses quando aportou nas terras brasileiras.
            Olhou para a casa abandonada, quase uma tapera, abanou a basta cabeleira e daí por diante tomou conta do lugar que todos diziam ser mal assombrado.
            Começou então a comprar todos os trastes que encontrava para sua estranha construção que era sempre no sentido vertical.
            Um frei capuchinho que foi visitá-lo disse que pelo jeito Tró-ló-ló queria atingir os céus e acabou abençoando-o e a sua obra, uma perfeita Torre de Babel, a troco de algumas moedas.
            Nos últimos tempos Tró-ló-ló não mais comia e nem dormia. Com uma botelha de um vinho verde ordinário sempre a mão prosseguia sua edificação que para alguns já estava mais alta que a torre da igreja da irmandade dos pretos.
            Mas tudo nessa vida tem seu preço. No fundo aquela trapizonga do Tró-ló-ló era um culto a ambição humana e uma afronta a Deus, toda a gente do lugar dizia.
            Numa noite de lua cheia ouviram-se grandes estalos por toda aquela parafernália que veio a baixo.
            O corpo de Joaquim Tró-ló-ló nunca foi encontrado e os moradores diziam que virou alma penada, assombrando o lugar, abraçado a Jean Claude Troisgros, o francês.
            Jogaram sal grosso nas ruínas e nunca mais ninguém ousou tomar posse daquele sítio que ficou abandonado para sempre..
            Ali só o que permaneceu exuberante foi o jacarandá, beirando os céus...