sexta-feira, 16 de julho de 2010

Essas grandes vítimas, as mulheres




Pedro Coimbra

Cidade de Londres, 1888. As prostitutas viviam apavoradas, pois um cruel assassino de mulheres atacava na região do East End..A imprensa, como sempre, apelidou o monstro que as esquartejava de “Jack, o Estripador”. Tão repentinamente quanto haviam começado, os assassinatos pararam. “Jack, o Estripador”, desapareceu e daí em diante tudo foi conjecturas sobre a sua real identidade.
A história de “Jack, o Estripador” foi um dos primeiros relatos do gênero que ouvi. Afinal, quase todos nós gostamos de histórias de crimes, de terror, desde que não aconteçam conosco. Basta ver o sucesso de monstros vampirescos e outros na literatura, no cinema... Minha tia Milita, uma tranqüila professora de História no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em Lavras, na década de 60, comprava as revistas “Detetive” e “X-9” e me repassava, Relato de crimes ocorridos nos Estados Unidos, cada um pior do que o outro e que me tiravam o sono...
O Brasil não poderia deixar de ter sua versão apurada de “Jack, o Estripador” através da triste história de Chico Picadinho, um cozinheiro e assassino que esquartejou duas mulheres em 1966 e 1976. Em 1965, Chico se mudou do Rio para São Paulo onde foi tentar a vida como cozinheiro, já que as belas praias e mulheres cariocas não condiziam com sua personalidade. Em pouco tempo, Chico já era um cozinheiro afamado, e logo era convidado para grandes festas onde havia muitas drogas e sexo. Em 1966, Chico fez sua primeira vítima: enquanto fazia amor com sua amiga Margarete, estrangulou-a com as mãos e apavorou-se ao vê-la morta. Retalhou-a e tirou o corpo de casa em sacolas, fugindo em seguida. Três dias depois, ao voltar para casa, deparou-se com agentes da delegacia de homicídios que haviam sido chamados por um amigo, com quem dividia o apartamento. Devido ao excesso de provas, não negou o crime e entregou-se sem resistir. Foi condenado a 18 anos de prisão, recebendo liberdade condicional na metade do tempo. De volta à vida agitada que tinha antes de ser preso, não demorou para que Chico matasse novamente: dessa vez, a vítima foi uma prostituta chamada Ângela. Depois de um jantar romântico, Chico estrangulou sua parceira e, como de costume, ficou apavorado. Como em sua nova casa não havia sacolas de supermercado, Chico teve a ideia de livrar-se do corpo jogando-o pelo vaso sanitário, e logo um grande entupimento aconteceu. A água transbordou, passando por baixo das portas do banheiro e da sala e chegando ao corredor do prédio. Como resultado, Chico foi preso novamente, desta vez por 30 anos. Hoje, apesar de já ter cumprido seu tempo na prisão, Chico avisou que não pode ser libertado. Chico Picadinho, o personagem da realidade brasileira que mais se assemelha ao canibal Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) de O Silêncio dos Inocentes (1991)...
Casos como o do goleiro Bruno, que mobilizam nossa atenção, são emblemáticos, num país onde morrem dez mulheres por dia, vítimas do violência doméstica. Encontre-se ou não os despojos de Eliza Samudi, por muito tempo os programas de televisão de final de tarde vão discutir a psicopatia dos envolvidos que apresentam comportamentos anti-sociais e amorais sem demonstração de arrependimento ou remorso. Muitos também discutirão se tais comportamentos decorrem do déficit de afeição.
Para a mídia um acontecimento como este gera muita audiência durante o tempo que dure. E as autoridades constituídas, com maior ou menor competência, sentem-se valorizadas debaixo das luzes...
No final de tudo vai restar uma história macabra e terrível. E se verificarmos perceberemos a existência de belas mulheres como Eliza em todos os meios onde o exercício do poder predomina...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aprendendo a torcer

Pedro Coimbra

Na sala, meus netos, João Gabriel, Laura e Júlia fazem muito barulho num primeiro contato com novos brinquedos. São jogos eletrônicos, bonecas e afins, sofisticados e caros.
Quando menino eu Governador Valadares, e eu era um menininho sempre muito limpinho, organizadinho, graças a minha mãe Maria e com poucos amigos, apesar da nossa casa ser nos fundos do Instituto Tiradentes, mantido por meus pais.
Nossos brinquedos eram todos improvisados, todos muito simples. Era um tempo em que pouco dinheiro circulava e ninguém pensava na tal sociedade de consumo. Os que nos davam mais prazer eram os carrinhos de rolimã, com os quais despencávamos pelo Morro do Carapina.
As bolas eram de meia ou de uma borracha vermelha resistente e algumas vezes aparecia uma bola de capotão muito pesada ou qualquer objeto de formato mais ou menos arredondado que pudesse ser chutado
Eu era péssimo nas peladas de rua, um legítimo perna de pau e por isso detestava o futebol.
Mas, no dia no dia 8 de junho de 1958 minha vida mudou, assentado ao lado do meu pai Renato, próximo a eletrola Telefunken, acompanhando a estréia da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo da Suécia. Na narração de Waldir Amaral decorei os nomes de Gilmar, De Sordi, Bellini, Orlando e Nílton Santos; Didi e Dino Sani; Joel, Mazola,  Dida e Zagalo.
Da minha primeira Copa do Mundo guardei a lembrança do técnico Vicente Feola, que papai dizia dormir durante a partida e de Mazola, que desconfio fosse uma figurinha fácil no álbum que ele comprara. E do jogo final contra a Suécia quando permitiram que soltasse um foguete que quase estourou meu tímpano. De Pelé, nem tomei conhecimento…
Em 1962 já usava óculos o que comprovou a teoria de que poderia ter tido um desempenho melhor nos esportes se não fosse a minha violenta miopia. Assisti o final da Copa do Mundo defronte  a carroceria de um caminhão estacionado ao lado do Casarão do Capitão Evaristo em Lavras, ouvindo a narração esportiva por auto falantes: Brasil 3 xTchecoslováquia 1. E nas comemorações meus óculos foram despedaçados...
Na Copa do Mundo seguinte, a da Inglaterra, ouvia os colegas de classe dizerem que 66 jogadores brasileiros haviam sido convocados e que tudo estava uma zona. Assistimos Brasil 3 X1 Portugal sentados no estádio do Gammon, na esperança de que o mineiro Tostão jogasse. Tudo acabou quando entendemos que aquela que deveria ser a Copa de Pelé na verdade foi do português Euzébio...
No Ano da Graça de 1970 o Brasil vivia um ufanismo sem precedentes capitaneado pelo ditador de plantão, General Emílio Garrastazu Médici, que ouvia jogo no radinho de pilha no Maracanã enquanto a repressão política atuava por todo o país. João Saldanha, que era um dos desses rebeldes sem causa que surgem para melhorar o mundo, classificou  o Brasil e foi demitido de suas funções. Saíram as feras de Saldanha e entraram as formiguinhas de Zagalo. Mas, parece que estava escrito que o Brasil seria campeão do Mundo e vibramos todos com aquele hino idiota do Miguel Gustavo que era o “Prá frente, Brasil”: Noventa milhões em ação/Pra frente Brasil/Do meu coração/Todos juntos vamos/Pra frente Brasil/Salve a Seleção/De repente é aquela corrente pra frente/Parece que todo o Brasil deu a mão/Todos ligados na mesma emoção/Tudo é um só coração!/Todos juntos vamos/
Pra frente Brasil, Brasil/Salve a Seleção...Argh!!!
A décima edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol, ocorreu de 13 de junho até 7 de julho de 1974 e me pegou trabalhando muito em Brasília. Assisti um jogo com operários que trabalhavam na montagem de uma forma num reservatório elevado de água. Havia um timaço em campo, o da Holanda, que acabou perdendo para a Alemanha, na final. Não fiquei muito abatido pois meu primeiro filho, o Rodrigo, nasceria em agosto.
A 11ª Copa do Mundo, em 1978, disputada na Argentina, me encontrou de novo trabalhando muito e morando em Cachoeira Paulista que nem mesmo tinha a Canção Nova... Era o tempo do técnico Claúdio Coutinho e a Seleção era horrorosa! Um time inseguro, apático e sem imaginação apesar de ter Zico no elenco...Acabou em terceiro lugar e considerado “campeão moral” pelo Capitão Cláudio Coutinho...
Veio 1982 e no mês da disputa da Copa do Mundo, na Espanha, eu estava em Belo Horizonte. É lembrada pelo futebol ofensivo e criativo da Seleção Brasileira comandada por Telê Santana. Mas quem ficou com o título, e eliminou os brasileiros, foi a Itália. Brasil e Itália se encontraram no segundo jogo da segunda fase. Uma derrota mais triste do que a de 50 no Maracanã, esta do Sarriá...Também marcou pela morte do meu cunhado Rogério num acidente de carro.
A Copa do Mundo de 1986 no México foi a que o Brasil foi novamente dirigido por Telê Santana. Assisti os jogos no Lavras Tênis Clube e veio a eliminação nos pênaltis para os franceses, que foram eliminados pelos alemães nas semifinais. Foi um dia muito triste para o esporte brasileiro...
Deste tempo em diante resolvi desistir de torcer, o que foi uma grande besteira, pois jogar, torcer, ganhar e perder fazem parte da nossa existência humana.
Na verdade dei um golpe contra mim mesmo. Não me exponho publicamente ao lado da torcida fanática. Gosto de sentar diante de um aparelho de televisão, desligar o som, sintonizar o rádio na transmissão esportiva que penso ser mais emocionante.
Este ano de Copa na África poderia ser flagrado em dois atos falhos. No carro da família duas bandeirinhas do Brasil. E pelo correio enviei uma para meu neto João Gabriel porque afinal de contas é preciso aprender a torcer no campo esportivo para enfrentar o jogo da vida....E ter sempre na língua a eterna desculpa do Capitão Claúdio Coutiho: “Isso não deu certo mas dei o melhor de mim. Portanto sou “campeão moral da vida”...