Pedro Coimbra
ppadua@navinet
Desde
garoto me tornei reconhecido como um “manteiga derretida”, um chorão, que
deixava extravasar suas emoções mais intimas a qualquer momento.
E
também a constatação de ser um individuo sedentário, que se movimentava pouco,
numa adolescência no Instituto Gammon, onde a visão que se tinha era de jovens
se movimentando a todos os momentos para algum lugar ou lugar nenhum.
E
a bem da verdade morava no meu corpo um DNA não vislumbrado que fez com que
meus filhos, Rodrigo e Ricardo, fossem notáveis jogadores de basquetebol.
Com
o passar dos anos passei a disfarçar estas atitudes sentimentais ou
sentimentalóides, mas constatei
recentemente que o episódio de abertura de um grande evento como as Olimpíadas
ainda me faz ficar emocionado.
Pelo
menos naqueles fugidios momentos, parece que somos todos irmãos, congregados na
prática do bem, da solidariedade e amizade entre os povos.
A
origem dos jogos desportivos se perde na História da Civilização e eles se
firmam na Grécia Antiga e em Roma como uma prática do Ser Humano para superar a
si mesmo e realizar nosso sonho maior de nos igualarmos aos deuses.
Os Jogos Olímpicos Moderno surgem
em Atenas, pela ação do francês Pierre de Fredy, conhecido com o barão de
Coubertin e cada vez mais estão distanciados dos seus propósitos iniciais de
união dos povos e raças.
Hoje são dominados pelos interesses
comerciais dos grandes grupos econômicos e pelo poder da mídia e quase ninguém
presta atenção ao lema "Citius, altius, fortius" (mais rápido, mais
alto e mais forte) proposto por Pierre de Coubertin.
Fico a pensar se estes são os
grandes motivos da minha emoção, ou lembrar que em 2016, as Olimpíadas
programadas para a cidade do Rio de Janeiro podem até mesmo não ocorrer, por
nossa reconhecida incapacidade de cumprir metas estabelecidas e pela corrupção
que permeia nossas entidades desportivas, quiçá toda a sociedade brasileira.
Me emociono também ao constatar
que ainda existem pessoas, como os professores Fernando de Oliveira e Ricardo
Pacheco que acreditam no poder do esporte em transformar as pessoas e melhorar
os relacionamentos neste mundo conturbado.
E não há como deixar de matutar
que apesar das estatísticas que me são favoráveis, as Olimpíadas de Londres
2012, evento que ocorrerá até 12 de agosto, podem ser o último da minha
existência.
Afinal de contas, até mesmo um
grande atleta, como era o Admilson Chitarra, não recebeu a benevolência dos
deuses e nos deixou prematuramente. Ele que resolveu, não sei por que, treinar uma
equipe de basquetebol da qual faziam parte amigos que já se foram, como
Januário, Nanato e eu, entre outros. Dias alegres! E acreditem, naquela equipe eu jogava muito
bem e era craque.
Enquanto isso, vitimado pela
falta de condicionamento físico e por um nervo ciático que dói como o Cão,
passo após anos de ostracismo, a frequentar uma academia, preocupado com meu
conforto no dia a dia.
Que os deuses que controlam
músculos, tendões e ossos tenham dó deste pobre mortal, é o que desejo.
Que saibam que não tenho a mínima
intenção de me igualar a eles e sim de poder carregar esta carcaça velha com um
mínimo de decência.