segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Obrigado pelo Natal

Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br


Márcio pediu a sua enésima Brahma ao Ademar, dono do “Bar Cisne” e ficou olhando para a moreninha de cabelos cacheados, nariz arrebitado, decote exagerado, sentada a sua frente e que não parava de falar.
Havia se assentado naquela mesa no começo da tarde, morto de fome e pedira um frango assado na “vitrine de cachorro”.
- É o mais saboroso da cidade – disse a moreninha e sem ser convidada refestelou-se em uma das cadeiras vazias à mesa, servindo-se de cerveja e saboreando uma asinha do frango.
Ele pensou que ela não precisava lhe dizer isso, pois freqüentava aquele botequim muito antes de se mudar para Beagá. Chamava-se então “Bar Recreio”, o dono era o Mauro e era bem mais simpleszinho. Naquela época vivia da mesada do pai e não poderia beber nem um pouco daquelas muitas cervejas .
Fosse um dia normal e não se importaria com a presença da moreninha pegando no seu pé.
Mas, aquele era um dia especial. Era Natal...O primeiro Natal longe de Linda...
No último Natal estava com ela no apartamento de um amigo, na rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Fazia um calor infernal, o apartamento parecia uma caixa de fósforos de tão pequeno e acabaram avisando aos outros que iriam até o Sendas, antes que fechasse, comprar algumas coisas para ceia.
Lá fora caía uma chuva forte que molhou nossos corpos e lavou nossas almas de toda a poluição humana..
Ela sabia o quanto eu era rude, um brutamonte com diploma e me falou nos ouvidos que o Natal significava não só o nascimento do Menino Jesus, mas o nosso renascimento e das nossas esperanças...
Era uma mulher profundamente espiritualizada e que tinha convicções arraigadas sobre o sentido e o propósito da vida.
Compramos algumas comidinhas próprias da época, ela escolheu um bom vinho chileno, uma pequena caixeta de uvas e uma boa porção de rabanada, que eu detestava.
Na portaria do prédio uma sombra na escuridão moveu-se na nossa direção.
Atento, preparei-me para o ataque de um assaltante vindo do Morro Santa Martha ou de um pedinte mais audacioso.
Para minha surpresa era um garotinho de pouco mais de oito anos, de cara suja, olhos brilhantes, enrolado em um cobertor maltrapilho.
- Moça. Ajudem a gente a comer! – disse com voz rouca.
Como sempre acontecia, nem mesmo tive tempo de raciocinar e Linda tomou-me as sacolas das mãos e entregou-as ao pivete.
- Obrigado pelo Natal! – ele gritou sorrindo e correndo sumiu na escuridão.
Fazia bastante tempo que Linda esse vale de lágrimas, mas não podia esquecer seu desprendimento e amor fraterno aos seres humanos.
Levantou-se cambaleante, abraçou e beijou a moreninha, agradecido por sua companhia.
- Obrigado pelo Natal...-disse finalmente.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

As emoções nos descaminham

Outro dia recebi um convite para a abertura de uma exposição de Maria Helena Andrés no Palácio das Artes e fui procurar uma imagem para uma matéria na web.
Nem bem bati um olho numa foto lembrei-me do dia que eu e seu filho Maurício Andrés Ribeiro, resolvemos criar a Frente Estudantil Renovadora (FERA), no Colégio Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para disputar o centro acadêmico.
Maria Helena Andrés que já era uma pintora renomada nos permitiu utilizar o verso de folhas de papel onde fazia os estudos para seus trabalhos a óleo.
Enquanto eu escrevia nossas palavras de ordem ficava olhando para aquelas madonas e naves perdidas num mar imenso, aquele torvelinho de cores, tentando imaginar a mensagem que estava por trás de tudo aquilo.
Ganhamos à eleição e os cartazes desapareceram todos dos corredores onde haviam sido afixados.
Esta deve ter sido a “campanha política” com maior viés cultural que participei, numa época em que o mundo já estava virando de pernas para cima.
No jornal “O Tempo” impresso encontro uma foto de Humberto Pereira, que está lançando “Carlos Prates”, dentro da coleção “BH. A Cidade de Cada Um”.
Se não me falha a memória ele era dominicano e professor de cinema da Universidade Católica de Minas Gerais.
È o produtor desde o começo do “Globo Rural”, da Rede Globo.
Tinha uma voz macia e participava de nossas intermináveis conversas nas mesas de botequins de melhor ou pior qualidade, em assuntos infindáveis sobre o cinema de Godard, Buñuel, Antonioni e Bergman, ao lado de maravilhosas garotas que faziam Psicologia.
Os dominicanos exerceram dois papéis importantes naquela época. Eram especialistas em comunicação de massa, o que era muito importante para Igreja Católica e tiveram uma expressiva participação na luta contra a ditadura militar, principalmente escondendo os perseguidos pelo regime.
Lembro-me dele e me ponho a meditar como são mal utilizadas as tevês educativas no país, sempre tentando imitar o glamour das grandes redes e olvidando seus princípios básicos.
Recebo através do Geraldo Bertolucci, parceiro do Lavras 24 Horas, a indicação para um vídeo caseiro, mas muito bem feito, “Histórias que se entrelaçam”, sobre o Rotary Club de Lavras e o Instituto Gammon.
Nas primeiras cenas já vejo figuras que fizeram parte da minha formação de adolescente..
O primeiro deles o Bi Moreira, que tinha fama de lunático, porque colecionava coisas inúteis que as pessoas não queriam mais no porão de suas casas que se modernizavam na onda do que se chamou Anos JK. Sua outra mania era o desfile do aniversário do Gammon, com quadros ao vivo, o que o fez me transformar num Castro Alves bem convincente...
A seguir a calvície inconfundível de Sinval Silva, filosofo de plantão e um grande educador, de pensamento e língua afiados...
Forma-se então a imagem do meu professor de Geografia, Oswaldo Louzada, que é um dos últimos sobreviventes daquele tempo e que vejo ainda lépido, nonagenário, pelas ruas da cidade.
Depois a figura de Lawrence Calhoun, que foi reitor do Gammon e sempre insistia para meu tio Roberto Coimbra e meu pai Renato Aquino Pádua se filiarem ao Rotary. Apesar do insucesso da empreitada sempre tentou. Um homem muito bom que desfilava pelas ruas de Lavras num imponente Chevrolet Impala verde...
O próximo, Eduard King Carr teve um importância marcante na minha vida. Num dia de festa no Gammon, na Alameda das Magnólias, me pegou de mãos dadas com a Ellen Carmen Paul, catarinense de Timbó e nos espinafrou...
Bom. Mas a história que eu queria contar hoje era outra.
Era a da bonita professora Franceli, sobrinha da Meirinha e da Arlete, da rede municipal de ensino que levava num final de semana quatro alunas ao cinema como prêmio pelo interesse e incentivo à busca pelo conhecimento e foi flagrada pela prefeita Jussara Menicucci e sua câmera. Para mim era um atitude normal, de caráter, pois eu já a conhecia desde o tempo que fui diretor de vôlei no Lavras Tênis Clube.
Não estranhei por que aqui em casa sempre foi assim também e o salário que Eudóxia, minha mulher, recebia era sempre revertido para os alunos.
Afinal, não adianta saber todos os métodos pedagógicos de cor e salteado. É preciso ter amor pela arte de ensinar...
Evidentemente os tempos estão mudados. E por isso mesmo os governantes deveriam se preocupar em remunerar melhor nossas professorinhas...
Para que todos pudessem se lembrar prazerosamente, como eu, da imagem da mulher linda que foi minha primeira mestra e da qual não consigo recordar o nome...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Fantasmas batem a minha porta

Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br

Recebo um e-mail de uma leitora que me pergunta, um tanto assustada, se o “Sete Orelhas”, para alguns um facínora mais cruel que Lampeão, citado por mim num texto recente, seria um dos descendentes de sua família...
Em outra oportunidade uma bonita mulher quer que lhe narre fatos do passado que envolvem sua família...
Aviso a todos que não sou historiador e não passo de um escrevinhador de meia tigela...
A primeira vez que tomei conhecimento que história não era apenas debruçar no passado e decorar datas e nomes foi antes de 1964, quando meu amigo José Márcio Carvalho (Tenório) me apresentou os trabalhos de Nélson Werneck Sodré, cuja originalidade foi ter unido a carreira militar, na qual chegou a general-de-brigada, à formação como sociólogo e historiador de orientação marxista e que de uma forma realística, para muitos jocosa, revisitava fatos e personagens do passado, que eram exaltados nos compêndios escolares.
Mais tarde, no Colégio Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais passávamos horas a dissecar acontecimentos de antanho, com a preocupação de dissecá-los sobre uma ótica em que as fontes orais não deviam ser utilizadas isoladamente, mas complementadas por outras fontes, preocupações do cenário socioeconômico, etc.
Mas, e afinal de contas, lembranças do passado, como ficam?
Padre Sérgio, sacerdote, guru e outras “coisitas más”, nos anos 60, entregava aos deprimidos que o procuravam no Colégio Aparecida de Lavras, uma receita de autoestima, numa tirinha de papel, com sua própria caligrafia.
Até pouco tempo guardava a minha, que dizia: “O passado passou. Vivo o presente alegre e satisfeito. O futuro a Deus pertence.”.
Enfrentar o dia a dia, ultrapassar as barreiras que surgem a cada momento da nossa vida, não se entregar ao pessimismo e nem ao desespero, era o maior conselho implícito.
E acreditem, funcionava melhor do que qualquer antidepressivo!
Faria apenas um acréscimo no que tange ao futuro, pois ele não só a Deus pertence como depende fundamentalmente de nossas ações e da nossa determinação.
Sendo assim nos debruçamos nos tempos idos como exemplo das atitudes boas e ruins que podemos tomar como exemplo.
Já foi dito, com muita propriedade, da dificuldade de criarmos qualquer obra artística, a partir do nada.
Agora mesmo trabalho no texto de um romance que junta fantasmas que batem a minha porta, fazem minha noites serem mal dormidas e me atazanam a todo momento.
Muitos reconhecerão familiares seus na trama que engendrei e que na verdade fazem parte do nosso inconsciente coletivo.
Mas, pensar no que já passou não faz mal a ninguém...
Como gostar de futebol sem lembrar dos craques de antigamente?
Discutir política de hoje desconhecendo a de ontem?
Admirar as belas mulheres de hoje sem lembrar dos brotinhos de um tempo que já se foi?
Felizmente para meus trabalhos guardo um repositório de histórias, desde dramas comezinhos até grandes epopéias domésticas.
Confesso aos leitores que ando com uma lente a tiracolo pesquisando fatos e personalidades para usá-las em meus textos.
E não me esqueço nunca de uma frase do sempre atual Albert Einstein, que diz: "A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O doce caminho da perdição

Em Quebra-quebra, corrutela perdida nos pés da Pirambeira, Cotinha nasceu debaixo de um ipê amarelo, na escuridão de uma noite de temporal.

Mãe Joana não sabia nem mesmo quem era seu pai porque abria as pernas para qualquer homem do lugarejo por qualquer tutaméia.

Moravam num casebre a beira do ribeirão dos Borges, com a criançada amontoada em dois cômodos.

Cresceu olhando as estrelas no céu, os passarinhos nos seus ninhos nas árvores e vez por outra, pescando lambaris do rabo vermelho no “bosteiro”, lugar ode mais gostavam de ficar.

Duas coisas Mãe Joana sabia fazer bem: filhos e quitandas deliciosas.

As mulheres dos fazendeiros apareciam sem avisar, traziam roupas velhas para todos e os modos para fazer as receitas que queriam.

- Só você sabe fazer igual – diziam para Mãe Joana.

Muito mansa ela colocava tudo em cima de uma porta colocada a modo de mesa: farinha de trigo, açúcar, manteiga, ovos, sal, fermento para pão, leite, óleo, amido de milho.

Só não providenciavam os limões que havia muito na matinha.

Marcavam com ela uma hora pra vir buscar, pegavam suas camionetes e desapareciam na estrada da Mina.

Mãe Joana, que vivia choramingando pelos cantos, abraçada a um velho retrato, mudava o jeito de ser, se alegrava e punha mãos na massa.

Tocava pra fora as crianças que teimavam em mexer nas coisas, lambendo o açúcar.

Ia fazendo e me ensinando, com muita paciência.

“Pegue aquela gamela, Cotinha. Esfarele o fermento e junte o sal. Misture até virar uma aguinha. Deixe pra lá. Ponha a farinha de trigo, reserve um pouco, o açúcar, as gemas, a manteiga e o fermento separado misturado com o leite que tá nessa latinha.. Mexa tudo, Cotinha, com uma colher de pau. Misture bem, batendo com carinho, em cima dessa tábua. De vez em quando jogue um pouco de farinha. Agora esqueça de tudo por um tempo”.

Em outros tempos, Mãe Joana morara na cidade e fora uma cozinheira de fama, diziam as mulheres dos fazendeiros quando apareciam.

Ninguém sabia por que abandonara tudo e se enfurnara naquele buraco. Era seu grande segredo.

“ Cotinha, limpe as mãos e abra a massa. Desenhe seus sonhos com esse cortador redondo que está dependurado na parede. Ponha nesta lata polvilhada com farinha. Tampe com aquele pano e não se lembre mais, para crescer. Pegue aquela frigideira e frite em óleo, nem muito quente, nem muito frio.. Deixe o óleo sair. Ponha o recheio. Passe pelo açúcar."

Então vinha a parte que Cotinha mais gostava que era fazer o creme.

“ Ponha o leite e guarde um pouquinho, o açúcar, o amido de milho dissolvido com o leite separado e as gemas levemente batidas. Deixe cozinhar até engrossar.Tire do fogo e ponha as raspas de limão. Mexa.”

Cotinha também achava os sonhos de Mãe Joana os mais formosos que havia.

Findado o trabalho ela agarrava de novo o retrato e se acocorava debaixo de uma mangueira.

Um dia Cotinha a procurou e achou-a caída no chão: vomitava sem parar, molhava as roupas e tremia muito.

Não passou muito tempo e morreu, nos braços da filha.

Os homens de Quebra-quebra chamaram a polícia e um detetive, um tal de França, disse que ela morrera envenenada com chumbinho.

Deixou três coisas para Cotinha: a filharada, o retrato em preto e branco e os sonhos...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Todas as homenagens deveriam ser em vida

Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br

Numa noite de domingo fui assistir uma celebração, um tributo de amigos e artistas a uma nonagenária que morrera de forma trágica e só então tivera desvendada uma vida cheia de aventuras e charme.
Pensava nessas homenagens tardias e no ator, diretor e produtor Anselmo Duarte que morrera aos 89 anos de idade.
Ele faz parte das minhas lembranças acompanhando as filmagens de “A Madona de Cedro”, de Carlos Coimbra, em Congonhas do Campo, graças ao Padre Massote, da Escola Superior de Cinema da Universidade Católica que emprestara duas câmeras “modernas” Arriflex para a produção. Isso nos idos de 68...
Baseado na obra homônima de Antonio Callado, o filme conta a história de Delfino, um homem pacato que vive em Congonhas do Campo, pequena e histórica cidade no estado de Minas Gerais. Mas, instigado pelos amigos, ele é levado a roubar de uma igreja a imagem Madona de Cedro, um valiosa escultura do século 18 esculpida por Aleijadinho.
Carlos Coimbra, que não era meu parente, foi um artesão, tentando fazer um cinema popular, sem grandes preocupações com a atualização da linguagem cinematográfica. A antítese do cinema novo...
Mas “A Madona de Cedro” era uma grande produção, com um elenco formado por Leonardo Villar, Leila Diniz, Anselmo Duarte, Sérgio Cardoso, Cleyde Yáconis, Jofre Soares, Leonor Navarro, Américo Taricano e Zbigniew Ziembinski. O mais fino da dramaturgia brasileira e a melhor equipe técnica. Quase todos já estrelando filmes nos céus...
Nas vezes que recontei histórias desse episódio me fixei na paixão de Leila Diniz pelo violonista Toquinho e que atrasavam o cronograma de filmagens quando os dois se trancavam por um final de semana em um apartamento do hotel, por ser mais interessante e charmosa.
Andando por todas as locações das filmagens, sempre ao lado de Aníbal Massaini, então um jovem produtor, encontrávamos com o co-produtor e ator Anselmo Duarte, simpático e falante.
Ele que conquistara a Palma de Ouro, em Cannes, com “O pagador de promessas” gostava de dizer que inventara o Cinema Novo, quando seus desafetos diziam que só ganhara de “O anjo exterminador”, de Buñuel, graças aos interesses da Motion Pictures..
Mas, Gláuber Rocha, guru do cinema brasileiro, era seu amigo, confidente e admirador...
Contava histórias e mais histórias, suas façanhas do passado, sonhando com os filmes que ainda realizaria, ele que era um ícone do cinema brasileiro, desde o tempo que ajudava o irmão Alfredo, projecionista de Salto, no interior de São Paulo, passando pelos inúmeros papéis de galã na Atlândida...
Como ator, tem um outro grande desempenho em “O caso dos Irmãos Naves”, em que faz o papel de um violento tenente da polícia mineira, dirigido por Luís Sérgio Person, que era uma “avis rara” do cinema novo em São Paulo.
A vida aventurosa de Anselmo Duarte começou com sua ida para o Rio de Janeiro, em 1942, atraído por um anúncio de jornal do diretor Orson Welles selecionando pessoas para participar do filme “It's All True”, uma lenda e que não foi finalizado, mas marca então a sua estréia no cinema.
E como um bom filme com começo, meio e fim sua história termina onde tudo começou.
Breve, tenho certeza, teremos uma enxurrada de obras sobre Anselmo Duarte nas livrarias e na “telinha”...
Mas, continuo a pensar que todas as homenagens deveriam ser em vida...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Um novo olhar

Apesar de experiências ditas pré-históricas a fotografia mesmo surgiu no verão de 1826, na França, através do inventor e litógrafo francês Joseph Nicéphore Niépce e dois anos depois com Louis Daguerre, de Paris, que mostrou seu interesse em gravar imagens. Em 1829, tornaram-se sócios, mas Niépce morre em 1833.
Em 7 de janeiro de 1839, Louis Daguerre comunica à Academia Francesa de Ciências um processo que originava as fotografias ou os daguerreótipos que eram imagens impressas em lâminas de vidro, sendo que alguns exemplares delas podem ser vistos no Museu Bi Moreira, em Lavras.
Começou então o grande sucesso da fotografia que tornou-se uma teconologia em ascensão.
Homens estranhos, com verdadeiras trapizongas nos ombros começaram a registrar imagens, a princípio no ar livre e logo a seguir em estúdios improvisados, utilizando-se da iluminação de magnésio.
Até então a fotografia era considerada por muitos uma atividade ligada a magia, capaz de apreender a alma das pessoas e muitos se opunham a se expor as lentes primitivas.
Mas foi em 1988 que o norte-americano George Eastman deu um caráter industrial ao invento e popularizou a fotografia com a câmera Kodak., leve e fácil de usar. Com a vantagem de poderem as fotos serem processadas em um laboratório profissional.
Como o sistema era muito eficiente o homem passava a contar com uma visão própria das coisas do mundo, independente da interpretação do estilo dos pintores.
No final da década de 50, minha irmã Sueli conseguiu seu primeiro emprego e surgiu em nossa casa com um caixotinho, uma máquina fotográfica Kapsa, de fabricação brasileira, mas bem eficiente. que lhe permitiu formar álbuns de flagrantes de sua juventude. E me deixar cada vez mais curioso com os mistérios da fotografia.
Aos poucos fui entendendo que aqueles aparelhos maravilhosos, as câmeras Pentax, Canon, Nikon e outras que eram nosso objeto de desejo podiam além de registrar momentos únicos, ser capazes de permitir várias interpretações do cotidiano.
Foi o tempo de admirar e estudar as composições do francês Henry Cartier-Bresson, que criou paulatinamente uma nova linguagem.
Depois disso enfrentei a fase da necessidade de conhecer todas as técnicas de laboratório e os melhores equipamentos.
E uma visão estética de tudo que se poderia fotografar.
Junto com Maurício Andrés Ribeiros, um talentoso fotografo, e outros amigos acabei evoluindo para o cinema, a imagem em movimento.
Mas a evolução tecnológica e industrial não para e com o desenvolvimento da eletrônica surgiu a fotografia digital.
E como era um método seguro, sem muitos detalhes, barato, de captar imagens acabou banalizando-se.
Hoje eu que me recusei a participar dessa mania globalizada capitulei e ando por todos os cantos com uma maquininha digital que resolve meus problemas imediatos.
Porém não abandonei as idéias de Henry Cartier-Bresson:
"A fotografia por si só não me interessa, mas a reportagem sim, a comunicação entre o mundo e o homem com este instrumento maravilhoso do tamanho da mão que nos faz passar desapercebidos. E assim participamos. É uma dança entende? É uma grande alegria fotografar assim".
Pois é preciso sempre lançar um novo olhar em derredor de nós e esquecer de nossos umbigos...

sábado, 24 de outubro de 2009

O peso da nossa Alma

Cada um vive como pode e como quer, dizia-me o Azulão, meu amigo, servente de pedreiro e meu filosofo de plantão.
Gosto de passar os dias a resolver aqueles problemas comezinhos, quase sempre cansativos, mas necessários, num correria sem fim entre compras, dentistas, médicos, tempo perdido nos bancos e conversa fiada com os amigos na Jade Joalheria e na Praça Augusto Silva, a sombra de suas árvores frondosas.
As noites e as madrugadas são especiais, de maior intimidade, introspecção e momentos em que libero toda a minha criatividade.
Agora, mais do que nunca, isso vai acontecer, pois estou resgatando um velho sonho de plantar no nosso pequeno jardim uma dama-da-noite, que pensava ser uma bromélia e agora vim saber que é um arbusto, que exala um aroma inebriante de suas flores...
Pesquisando para um projeto de um novo romance sou obrigado a conviver com o fio da navalha representado pelos limites entre o bem e o mal, o que não é grande novidade, pois esses pontos críticos da condição humana estão presentes a séculos na produção intelectual.
Para tipificar tais personalidades não basta examinar a conduta de um assassino qualquer ou a bondade da velhinha da esquina.
É preciso aprofundar o máximo possível e estudar ícones como o austríaco Adolf Hitler e a cândida Madre Teresa de Calcutá e com perspicácia separar atitudes humanas das sobrenaturais.
Nessa azáfama dou de cara com uma informação científica que conhecia de muito tempo atrás e não me recordava mais de onde havia lido.
Todos nós sabemos de cor e salteado o peso desta massa material, mais ou menos harmônica que é o nosso corpo. Somos fanáticos por uma balança de farmácia.
Porém, se concordamos que existem forças extras físicas que determinam nossas ações no Planeta Azul, somos obrigados a aceitar que sejam denominados de Espíritos ou Almas.
Para os espíritas a Alma é o Espírito reencarnado.
Essas são deduções até mesmo fáceis de ser aceitas sobre o ponto de vista filosófico ou religioso por qualquer um de nós.
No entanto, esta espécie que evoluiu e conseguiu progressos que nenhuma outra alcançou não se satisfaz com meras deduções e num mundo altamente tecnológico queremos provas cabais de tudo que nos envolve.
Em 1902, em Massachusetts, o cientista Dr. Duncan Mac Dougall, acompanhou seis tuberculosos em estado terminal até o último momento e verificou que todos apresentaram uma perda de peso aproximada de 21 gramas, equivalente ao de um beija-flor. O mais curioso é que fez o mesmo experimento em animais e o fato não ocorreu.
Existem milhares de conjeturas que podem justificar esta perda de 21 gramas na massa corpórea na hora da morte.
Mesmo na dúvida, constato que a existência da Alma ou Espírito será um dia comprovada de forma mais cabal.
E tenho a certeza que sua existência em determinadas pessoas vem a tona com mais facilidade.
É o caso do companheiro Martiniano, das andanças da “Campanha do Quilo” pela cidade, sempre com um livro a tiracolo e uma idéia na cabeça, absolutamente convicto das suas idéias espíritas.
E da Aná, irmã do meu amigo Herculano Pinto, católica convicta e que em tempos outros que passei pela Rádio Cultura de Lavras me presenteou com uma pequena imagem de Santa Clara, protetora da comunicação e que repousa desde então em uma posição privilegiada no meu quarto.
A ausência dessas Almas/Espíritos que nos deixaram cheios de saudades e recordações e de suas atitudes exemplares diante da Vida será sempre lembrada independentemente de qualquer comprovação física ou não de sua existência...
Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br