Pedro Coimbra
Miúcha
me disse, num final de semana passado em Monte Verde, que o que nos unia era a química.
Será verdade? Pesquiso e
constato que o corpo humano é composto por 21 elementos da Natureza, que talizam 96. E que 95% da massa corporal é
formada por 4 elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio.
Enquanto Miúcha e eu rolamos pela cama e pelos tapetes vermelhos
raciocino se esses elementos presentes em mim são capazes de substituir o que
chamamos de afetividade.
Minha tia Tetê, uma solteirona de mão cheia, funcionária aposentada da
Caixa Econômica Federal, tornou-se uma espécie de protetora da família e guru
sentimental.
Diziam, e as fotos não desmentiam, ter sido uma das mulheres mais bonitas
da cidade.
Teve só um grande amor, Lipinho, nomeado Fiscal de Rendas, sem concurso,
por políticos. Era o que chamavam então de “pé de valsa” e todos diziam que ele
e Tetê haviam nascido um para o outro.
Seria essa a tal química perfeita?
Tia Tetê não gostava de conversar no assunto, principalmente como Lipinho
desaparecera de sua vida.
Tudo acontecera numa terça-feira, e por isso ela detestava esses dias da
semana.
O melhor dançarino da
cidade, sua paixão, fez as malas, abandonou um emprego duradouro, tomou a
“jardineira” para a Capital e foi se refestelar nos braços de Mercedes, uma
dançarina espanhola que morava na Casa da Zezé, o mais famoso prostíbulo de
Minas Gerais.
Para
uma sobrinha mais espevitada que insistiu muito ela contava como tudo tivera
fim.
Mercedes
não era uma mulher para um homem só e corneava Lipinho a torto e a direito.
- Ia além de suas
funções de mulher dama – explicava ruborizada tia Tetê.
Numa noite de lua cheia,
Lipinho estava bebendo um chope na Cantina do Lucas,
no Maleta, quando entrou um tal de Dudu.
Os dois eram
muito fortes e logo batiam boca por Mercedes, até que Dudu sacou um revólver e
crivou Lipinho com vários balaços.
-
Testemunhas disseram que Lipinho se arrastou ainda até a esquina da Avenida
Augusto de Lima e Bahia antes de morrer – dizia com lágrimas nos olhos.
Foi ela quem
pagou o translado, velório e enterro com um terno novo, guardando no seu
breviário uma recordação da Missa de Sétimo Dia que mandou rezar na Igreja das
Mercês.
- Mas, tia,
existe a química no amor, ou não?
Antes que
responda chego a conclusão que a afirmação é uma grande balela e que o amor
está mesmo condicionado a nossa empatia pelo outro, nossa capacidade de
dividirmos emoções e aí, deixarmos que funcionem aquelas nossas glândulas animais primárias.
Essa
história da
química de cada um de nós é apenas uma maneira de escamotearmos as verdadeiras
virtudes necessárias a longevidade dos nossos relacionamentos.
Ah! E para terminar vou
atrás de alguém que supra a minha falta de lítio...
Pois, como diz a poeta Cláudia Banegas, “ Para amar é necessário apenas
ter um coração... sem mais, nem menos.”