sábado, 7 de julho de 2012

A química de cada um de nós




Pedro Coimbra

            Miúcha me disse, num final de semana passado em Monte Verde, que o que nos unia era a química.
Será verdade? Pesquiso e constato que o corpo humano é composto por 21 elementos da Natureza, que talizam 96. E que 95% da massa corporal é formada por 4 elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio.
Enquanto Miúcha e eu rolamos pela cama e pelos tapetes vermelhos raciocino se esses elementos presentes em mim são capazes de substituir o que chamamos de afetividade.
Minha tia Tetê, uma solteirona de mão cheia, funcionária aposentada da Caixa Econômica Federal, tornou-se uma espécie de protetora da família e guru sentimental.
Diziam, e as fotos não desmentiam, ter sido uma das mulheres mais bonitas da cidade.
Teve só um grande amor, Lipinho, nomeado Fiscal de Rendas, sem concurso, por políticos. Era o que chamavam então de “pé de valsa” e todos diziam que ele e Tetê haviam nascido um para o outro.
Seria essa a tal química perfeita?
Tia Tetê não gostava de conversar no assunto, principalmente como Lipinho desaparecera de sua vida.
Tudo acontecera numa terça-feira, e por isso ela detestava esses dias da semana.
O melhor dançarino da cidade, sua paixão, fez as malas, abandonou um emprego duradouro, tomou a “jardineira” para a Capital e foi se refestelar nos braços de Mercedes, uma dançarina espanhola que morava na Casa da Zezé, o mais famoso prostíbulo de Minas Gerais.
            Para uma sobrinha mais espevitada que insistiu muito ela contava como tudo tivera fim.
            Mercedes não era uma mulher para um homem só e corneava Lipinho a torto e a direito.
- Ia além de suas funções de mulher dama – explicava ruborizada tia Tetê.
Numa noite de lua cheia, Lipinho estava bebendo um chope na Cantina do Lucas, no Maleta, quando entrou um tal de Dudu.
Os dois eram muito fortes e logo batiam boca por Mercedes, até que Dudu sacou um revólver e crivou Lipinho com vários balaços.
- Testemunhas disseram que Lipinho se arrastou ainda até a esquina da Avenida Augusto de Lima e Bahia antes de morrer – dizia com lágrimas nos olhos.
Foi ela quem pagou o translado, velório e enterro com um terno novo, guardando no seu breviário uma recordação da Missa de Sétimo Dia que mandou rezar na Igreja das Mercês.
- Mas, tia, existe a química no amor, ou não?
Antes que responda chego a conclusão que a afirmação é uma grande balela e que o amor está mesmo condicionado a nossa empatia pelo outro, nossa capacidade de dividirmos emoções e aí, deixarmos que funcionem aquelas  nossas glândulas animais primárias.
Essa história da química de cada um de nós é apenas uma maneira de escamotearmos as verdadeiras virtudes necessárias a longevidade dos nossos relacionamentos.
Ah! E para terminar vou atrás de alguém que supra a minha falta de lítio...
Pois,  como diz a poeta Cláudia Banegas, “ Para amar é necessário apenas ter um coração... sem mais, nem menos.”


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