terça-feira, 20 de novembro de 2012

Peripécias e o final de Juvêncio Flores





Peripécias e o final de Juvêncio Flores

Pedro Coimbra

Aquele foi um ano de fatos  estranhos na pequenina Riacho das Flores, no pé da Serra Verde.
O primeiro deles uma luz muito brilhante que rasgou o céu do lugarejo e desapareceu com grande estrondo.
Outro, a Donana, uma solteirona que trabalhava com um tear colonial, ter dado a luz a um menino que chamou de Juvêncio.
Professor Carlão, um homem muito sabido, que era considerado o de maior sabedoria na região, disse que não havia nada extraordinário na explosão.
Para ele era a queda de um meteorito, um pedaço dos céus.
Organizou uma expedição e acabou por encontrar o que restava do fenômeno fincado no solo.
E quanto ao parto de uma virgem, o Professor Carlão, não pretendeu dar sua opinião, pois achava que era um fato muito mais complicado que os casos dos céus.
- É uma graça de bebê! – afirmou Dona Zuzu para quem a mãe levou o nascituro para ser benzido contra mau olhado.
Donana, foi pai e mãe de Juvêncio, trabalhando dia e noite, embalando e ninando-o em todos os momentos.
Ah! Um outro fato registrado pelo escrivão Apolino foi que surgiu no nariz das mulheres mais belas do lugarejo enormes verrugas que não desapareciam com nenhuma simpatia...
Donana era uma mulher cheia de virtudes, quitandeira de mão cheia e em sua casa funcionava um salão de beleza.
Juvêncio Flores foi criado no meio da mulherada e mostrou-se desde pequeno um safado de marca maior.
Adolescente tornou-se o cabeleleiro preferido das mulheres de Riacho das Flores e cercanias, envolvendo-se com todos elas.
Num belo dia, quando estava na cama com a esposa de um maquinista chamado Marcos, produziu estranhos grunhidos, ficou roxo e caiu inerte.
- Juvêncio Flores morreu! Juvêncio Flores morreu – saiu gritando a sem-vergonha...
Seu corpo foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para o velório do queridinho de todos.
Defronte ao caixão o marido traído não tirava os olhos do famigerado.
Nem bem colocaram o caixão sobre cavaletes, ouviu-se roncos e guinchados, e Juvêncio Flores, interrompeu as rezas de Donana e das outras abandonadas.
- Tô é vivo, gente! – gritou nosso herói, assentando-se todo lampeiro.
Foi quando Marcos, o maquinista, que não aceitara os chifres, gritou:
- Morreu sim, vagabundo! – e tirou da cinta um revólver 38.
Despejou uma saraivada de tiros no corpo de Juvêncio Flores, que caiu sobre os lírios brancos que cobriam seu corpo, definitivamente morto.
Naquela noite Professor Carlão registrou alguns fatos estranhos ocorridos em Riacho da Flores.
O primeiro, um rasgo de luz que cortou o céu da lugar por muito tempo e que ele não soube explicar.
O outro, o desaparecimento de uma hora para outras das verrugas que afligiam as mulheres da vila.
A partir daquele dia, Donana e outra mulheres unidas construíram uma capela dedicada a São Juvêncio, que o Vigário não consagrou, pois havia muitas fotos de Juvêncio Flores, o Cometa de Deus...

Peripécias e o final de Juvêncio Flores





Peripécias e o final de Juvêncio Flores

Pedro Coimbra

Aquele foi um ano de fatos  estranhos na pequenina Riacho das Flores, no pé da Serra Verde.
O primeiro deles uma luz muito brilhante que rasgou o céu do lugarejo e desapareceu com grande estrondo.
Outro, a Donana, uma solteirona que trabalhava com um tear colonial, ter dado a luz a um menino que chamou de Juvêncio.
Professor Carlão, um homem muito sabido, que era considerado o de maior sabedoria na região, disse que não havia nada extraordinário na explosão.
Para ele era a queda de um meteorito, um pedaço dos céus.
Organizou uma expedição e acabou por encontrar o que restava do fenômeno fincado no solo.
E quanto ao parto de uma virgem, o Professor Carlão, não pretendeu dar sua opinião, pois achava que era um fato muito mais complicado que os casos dos céus.
- É uma graça de bebê! – afirmou Dona Zuzu para quem a mãe levou o nascituro para ser benzido contra mau olhado.
Donana, foi pai e mãe de Juvêncio, trabalhando dia e noite, embalando e ninando-o em todos os momentos.
Ah! Um outro fato registrado pelo escrivão Apolino foi que surgiu no nariz das mulheres mais belas do lugarejo enormes verrugas que não desapareciam com nenhuma simpatia...
Donana era uma mulher cheia de virtudes, quitandeira de mão cheia e em sua casa funcionava um salão de beleza.
Juvêncio Flores foi criado no meio da mulherada e mostrou-se desde pequeno um safado de marca maior.
Adolescente tornou-se o cabeleleiro preferido das mulheres de Riacho das Flores e cercanias, envolvendo-se com todos elas.
Num belo dia, quando estava na cama com a esposa de um maquinista chamado Marcos, produziu estranhos grunhidos, ficou roxo e caiu inerte.
- Juvêncio Flores morreu! Juvêncio Flores morreu – saiu gritando a sem-vergonha...
Seu corpo foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para o velório do queridinho de todos.
Defronte ao caixão o marido traído não tirava os olhos do famigerado.
Nem bem colocaram o caixão sobre cavaletes, ouviu-se roncos e guinchados, e Juvêncio Flores, interrompeu as rezas de Donana e das outras abandonadas.
- Tô é vivo, gente! – gritou nosso herói, assentando-se todo lampeiro.
Foi quando Marcos, o maquinista, que não aceitara os chifres, gritou:
- Morreu sim, vagabundo! – e tirou da cinta um revólver 38.
Despejou uma saraivada de tiros no corpo de Juvêncio Flores, que caiu sobre os lírios brancos que cobriam seu corpo, definitivamente morto.
Naquela noite Professor Carlão registrou alguns fatos estranhos ocorridos em Riacho da Flores.
O primeiro, um rasgo de luz que cortou o céu da lugar por muito tempo e que ele não soube explicar.
O outro, o desaparecimento de uma hora para outras das verrugas que afligiam as mulheres da vila.
A partir daquele dia, Donana e outra mulheres unidas construíram uma capela dedicada a São Juvêncio, que o Vigário não consagrou, pois havia muitas fotos de Juvêncio Flores, o Cometa de Deus...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O unicórnio no jardim




Pedro Coimbra


Once upon a sunny morning a man who sat in a breakfast nook looked up from his scrambled eggs to see a white unicorn with a golden horn quietly cropping the roses in the garden. The man went up to the bedroom where his wife was still asleep and woke her. "There's a unicorn in the garden," he said. "Eating roses." She opened one unfriendly eye and looked at him.

Era uma vez, numa manhã de sol, um homem que estava sentado à mesa tomando seu café da manhã. Num momento, ele olhou dos seus ovos mexidos para fora da casa e viu um unicórnio branco com um chifre de ouro calmamente comendo as rosas do jardim. O homem subiu para o quarto onde sua esposa ainda estava dormindo e a acordou. "Tem um unicórnio no jardim," ele disse. "Comendo rosas." Ela abriu um olho, não muito amigável, e olhou para ele.
O autor deste texto é James Thurber, que um dia, ao jogar "William Tell" com os irmãos perdeu a visão em um olho, quando uma flecha perfurou-o. Em última análise, ele viveria cego dos dois olhos, mas isso nunca o impediu de escrever ou desenhar. Criador de numerosos New Yorker caricaturas/ capa de revista, tornou-se  um dos maiores humoristas americanos do século 20, dono de inimitável prosa e amplitude de gêneros, incluindo contos, comentários moderna, ficção, fantasia infantil e letras.
Mas, por que diabos escrevo hoje sobre James Thurber?  A principal razão é que no meu primeiro livro escolar de Inglês, havia um texto sobre um unicórnio no jardim, talvez uma adaptação do original.
Minha professora era uma senhora de cabelos brancos, Dona Nair Paranaguá, casada com o também professor Tancredo Paranaguá, da Escola Superior de Agricultura  de Lavras (ESAL) e moravam perto do Hospital Vaz Monteiro, numa rua tranquila onde hoje alojam-se várias clínicas e consultórios médicos.
Foi ela quem primeiro percebeu minha dificuldade de ler o que ela escrevia no quadro negro e me disse que pedisse ao meu pai para me encaminhar ao oftalmologista.
Fiz o exame com o Dr. Geraldo Vilela, hoje octogenário, que detectou minha acentuada miopia e recomendou óculos de lentes esverdeadas.
Não me esqueço do dia que fui buscá-los na tradicional Joalheria Mesquita, na Rua Raul Soares e os coloquei pela primeira. Aquela “cangalha”, como diziam meus colegas, atrapalhava a prática de esportes, mas mudou minha vida que ficou nítida e clara.
Continuei com eles de diversas formas e tamanhos, t entei lentes de contatos e corri de operações corretivas até que tive que fazer uma em razão de um deslocamento de retina no olho direito.
Isso foi a mais de setes anos e agora o olho voltou a me incomodar, sinto que não estou enxergando nada na vista operada.
Espero que meu amigo de adolescência, Dr. Oto Metzger, grande médico das doenças dos olhos se recupere de um problema médico que o atingiu e possa me examinar. E conversarmos assuntos diversos no seu consultório, como sempre fizemos...
            Tenho medo da cegueira, mesmo lembrando-me do Tio Zequinha, parente do meu pai, que já completamente sem visão saía da Avenida Vaz Monteiro e vinha até nossa casa no centro da cidade ou a casa da minha avó Maria do Rosário...
            Na verdade o que me apavora são episódios como o da cegueira temporária de Saulo de Tarso, o “vaso escolhido” por Jesus para a divulgação do Cristianismo.
            Ou em “Un chien andalou” um filme surrealista dirigido/escrito por Luis Buñuel e Salvador Dalí. A primeira cena mostra uma mulher que tem seu olho cortado por uma navalha por um homem.
Quem sabe nossa incapacidade de enxergar o tal unicórnio e outros seres fantásticos esteja ligada a luta em aceitarmos as coisas mais espirituais, acostumados que estamos a realidade que nos diz que pau é pau e pedra é pedra...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um passo de mágica



Pedro Coimbra


 

            M. não chegou ao mundo de maneira tranquila, mas literalmente caindo no chão frio de terra batida do casebre em Vai e Vem.

            Tão fraco e esquálido nem mesmo deu seu primeiro choro e passou a viver as dificuldades deste grande mundo de Deus.

            Dolores, sua mãe apenas o contou como mais um dos seis filhos, todos de pais desconhecidos.

            Por milagre de Nossa Senhora da Conceição sobreviveu se arrastando pelos lugares mais fétidos, beirando esgotos, bebendo água poluída

Vai e Vem era um lugar perdida no sertão do Brasil, com um pequeno amontoado de gente que vivia de expedientes e sobras dos mais abastados.

No passado fora uma importante cidadela na colonização portuguesa e em seu território ocorreram importantes lutas.

Já garoto, fugido da escola, M. andava por todos os morros, serras e campinas, livre e solto.

Certo dia, deitado debaixo de uma grande árvore, viu formarem-se nuvens de muita chuva, com raios e o estrondo de trovoadas.

Um grande clarão de luz caiu sobre M. que foi atirado a distância.

Ficou desfalecido por muito tempo e quando voltou a si, sentiu que coxeava de uma das pernas.

O mais importante é que o incidente parecia ter aberto a inteligência de M., como dizia o Dr. Clarismundo, um advogado beberrão, que vivia na porta do Boteco do Nêgo Véio.

M. disparou a trabalhar a partir daquela data, usando principalmente um dom que todos desconheciam para seduzir as pessoas e fazer bons negócios.

Começou a comprar imóveis e logo diziam que se transformara num agiota de mãos cheias e já acumulava casas, terrenos e mais de vinte fazendas.

Aproximou-se de Gilda, filha de um político arruinado, e conquistou-a com promessas.

“M. é o homem mais rico de Vai e Vem e não para mais”, diziam os falastrões do lugarejo.

Preocupava-se cada vez mais com os negócios e muito pouco com a mãe Dolores e os irmãos.

Só uma coisa chamava sua atenção: os circos mambembes que as vezes apareciam em Vai e Vem ou na região.

M. sentia-se fascinado com os espetáculos, muito mais do que com os programas de televisão onde participavam atores reconhecidos e milionários.

Seus olhos brilhavam com as fantasias das bailarinas, o humor acido dos palhaços, os equibristas e os trapezistas.

O que mais o encantava e deixava sem fôlego era o mistério dos mágicos.

Tantas fez que acabou aprendendo algumas mágicas num dos circos: desaparecendo com o pano; carta furada do espectador e o copo que atravessa a mesa.

M. descobriu que viera ao mundo para se dedicar as mágicas e truques

Numa manhã de um mês de novembro, fechou seu escritório em Vai e Vem, e desapareceu.

Tornou-se Órion, o mágico e sua especialidade tornou-se o número em que serrava a assistente ao meio, até o dia em que tudo acabou terminando em tragédia!