Peripécias e o
final de Juvêncio Flores
Pedro Coimbra
Aquele foi
um ano de fatos estranhos na pequenina
Riacho das Flores, no pé da Serra Verde.
O primeiro
deles uma luz muito brilhante que rasgou o céu do lugarejo e desapareceu com
grande estrondo.
Outro, a
Donana, uma solteirona que trabalhava com um tear colonial, ter dado a luz a um
menino que chamou de Juvêncio.
Professor
Carlão, um homem muito sabido, que era considerado o de maior sabedoria na
região, disse que não havia nada extraordinário na explosão.
Para ele
era a queda de um meteorito, um pedaço dos céus.
Organizou
uma expedição e acabou por encontrar o que restava do fenômeno fincado no solo.
E quanto ao
parto de uma virgem, o Professor Carlão, não pretendeu dar sua opinião, pois
achava que era um fato muito mais complicado que os casos dos céus.
- É uma
graça de bebê! – afirmou Dona Zuzu para quem a mãe levou o nascituro para ser
benzido contra mau olhado.
Donana, foi
pai e mãe de Juvêncio, trabalhando dia e noite, embalando e ninando-o em todos
os momentos.
Ah! Um
outro fato registrado pelo escrivão Apolino foi que surgiu no nariz das
mulheres mais belas do lugarejo enormes verrugas que não desapareciam com
nenhuma simpatia...
Donana era
uma mulher cheia de virtudes, quitandeira de mão cheia e em sua casa funcionava
um salão de beleza.
Juvêncio
Flores foi criado no meio da mulherada e mostrou-se desde pequeno um safado de
marca maior.
Adolescente
tornou-se o cabeleleiro preferido das mulheres de Riacho das Flores e
cercanias, envolvendo-se com todos elas.
Num belo
dia, quando estava na cama com a esposa de um maquinista chamado Marcos,
produziu estranhos grunhidos, ficou roxo e caiu inerte.
- Juvêncio
Flores morreu! Juvêncio Flores morreu – saiu gritando a sem-vergonha...
Seu corpo
foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para o velório do
queridinho de todos.
Defronte ao
caixão o marido traído não tirava os olhos do famigerado.
Nem bem
colocaram o caixão sobre cavaletes, ouviu-se roncos e guinchados, e Juvêncio
Flores, interrompeu as rezas de Donana e das outras abandonadas.
- Tô é
vivo, gente! – gritou nosso herói, assentando-se todo lampeiro.
Foi quando
Marcos, o maquinista, que não aceitara os chifres, gritou:
- Morreu
sim, vagabundo! – e tirou da cinta um revólver 38.
Despejou
uma saraivada de tiros no corpo de Juvêncio Flores, que caiu sobre os lírios
brancos que cobriam seu corpo, definitivamente morto.
Naquela
noite Professor Carlão registrou alguns fatos estranhos ocorridos em Riacho da
Flores.
O primeiro,
um rasgo de luz que cortou o céu da lugar por muito tempo e que ele não soube
explicar.
O outro, o
desaparecimento de uma hora para outras das verrugas que afligiam as mulheres
da vila.
A partir
daquele dia, Donana e outra mulheres unidas construíram uma capela dedicada a
São Juvêncio, que o Vigário não consagrou, pois havia muitas fotos de Juvêncio
Flores, o Cometa de Deus...