Pedro Coimbra
M.
não chegou ao mundo de maneira tranquila, mas literalmente caindo no chão frio
de terra batida do casebre em Vai e Vem.
Tão
fraco e esquálido nem mesmo deu seu primeiro choro e passou a viver as
dificuldades deste grande mundo de Deus.
Dolores,
sua mãe apenas o contou como mais um dos seis filhos, todos de pais desconhecidos.
Por
milagre de Nossa Senhora da Conceição sobreviveu se arrastando pelos lugares
mais fétidos, beirando esgotos, bebendo água poluída
Vai e Vem era um
lugar perdida no sertão do Brasil, com um pequeno amontoado de gente que vivia
de expedientes e sobras dos mais abastados.
No passado fora
uma importante cidadela na colonização portuguesa e em seu território ocorreram
importantes lutas.
Já garoto,
fugido da escola, M. andava por todos os morros, serras e campinas, livre e
solto.
Certo dia,
deitado debaixo de uma grande árvore, viu formarem-se nuvens de muita chuva,
com raios e o estrondo de trovoadas.
Um grande clarão
de luz caiu sobre M. que foi atirado a distância.
Ficou
desfalecido por muito tempo e quando voltou a si, sentiu que coxeava de uma das
pernas.
O mais
importante é que o incidente parecia ter aberto a inteligência de M., como
dizia o Dr. Clarismundo, um advogado beberrão, que vivia na porta do Boteco do
Nêgo Véio.
M. disparou a
trabalhar a partir daquela data, usando principalmente um dom que todos
desconheciam para seduzir as pessoas e fazer bons negócios.
Começou a comprar
imóveis e logo diziam que se transformara num agiota de mãos cheias e já
acumulava casas, terrenos e mais de vinte fazendas.
Aproximou-se de
Gilda, filha de um político arruinado, e conquistou-a com promessas.
“M. é o homem
mais rico de Vai e Vem e não para mais”, diziam os falastrões do lugarejo.
Preocupava-se
cada vez mais com os negócios e muito pouco com a mãe Dolores e os irmãos.
Só uma coisa
chamava sua atenção: os circos mambembes que as vezes apareciam em Vai e Vem ou
na região.
M. sentia-se fascinado
com os espetáculos, muito mais do que com os programas de televisão onde
participavam atores reconhecidos e milionários.
Seus olhos
brilhavam com as fantasias das bailarinas, o humor acido dos palhaços, os
equibristas e os trapezistas.
O que mais o
encantava e deixava sem fôlego era o mistério dos mágicos.
Tantas fez que
acabou aprendendo algumas mágicas num dos circos: desaparecendo com o pano;
carta furada do espectador e o copo que atravessa a mesa.
M. descobriu que
viera ao mundo para se dedicar as mágicas e truques
Numa manhã de um
mês de novembro, fechou seu escritório em Vai e Vem, e desapareceu.
Tornou-se Órion, o mágico e sua
especialidade tornou-se o número em que serrava a assistente ao meio, até o dia
em que tudo acabou terminando em tragédia!
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