terça-feira, 20 de novembro de 2012

Peripécias e o final de Juvêncio Flores





Peripécias e o final de Juvêncio Flores

Pedro Coimbra

Aquele foi um ano de fatos  estranhos na pequenina Riacho das Flores, no pé da Serra Verde.
O primeiro deles uma luz muito brilhante que rasgou o céu do lugarejo e desapareceu com grande estrondo.
Outro, a Donana, uma solteirona que trabalhava com um tear colonial, ter dado a luz a um menino que chamou de Juvêncio.
Professor Carlão, um homem muito sabido, que era considerado o de maior sabedoria na região, disse que não havia nada extraordinário na explosão.
Para ele era a queda de um meteorito, um pedaço dos céus.
Organizou uma expedição e acabou por encontrar o que restava do fenômeno fincado no solo.
E quanto ao parto de uma virgem, o Professor Carlão, não pretendeu dar sua opinião, pois achava que era um fato muito mais complicado que os casos dos céus.
- É uma graça de bebê! – afirmou Dona Zuzu para quem a mãe levou o nascituro para ser benzido contra mau olhado.
Donana, foi pai e mãe de Juvêncio, trabalhando dia e noite, embalando e ninando-o em todos os momentos.
Ah! Um outro fato registrado pelo escrivão Apolino foi que surgiu no nariz das mulheres mais belas do lugarejo enormes verrugas que não desapareciam com nenhuma simpatia...
Donana era uma mulher cheia de virtudes, quitandeira de mão cheia e em sua casa funcionava um salão de beleza.
Juvêncio Flores foi criado no meio da mulherada e mostrou-se desde pequeno um safado de marca maior.
Adolescente tornou-se o cabeleleiro preferido das mulheres de Riacho das Flores e cercanias, envolvendo-se com todos elas.
Num belo dia, quando estava na cama com a esposa de um maquinista chamado Marcos, produziu estranhos grunhidos, ficou roxo e caiu inerte.
- Juvêncio Flores morreu! Juvêncio Flores morreu – saiu gritando a sem-vergonha...
Seu corpo foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para o velório do queridinho de todos.
Defronte ao caixão o marido traído não tirava os olhos do famigerado.
Nem bem colocaram o caixão sobre cavaletes, ouviu-se roncos e guinchados, e Juvêncio Flores, interrompeu as rezas de Donana e das outras abandonadas.
- Tô é vivo, gente! – gritou nosso herói, assentando-se todo lampeiro.
Foi quando Marcos, o maquinista, que não aceitara os chifres, gritou:
- Morreu sim, vagabundo! – e tirou da cinta um revólver 38.
Despejou uma saraivada de tiros no corpo de Juvêncio Flores, que caiu sobre os lírios brancos que cobriam seu corpo, definitivamente morto.
Naquela noite Professor Carlão registrou alguns fatos estranhos ocorridos em Riacho da Flores.
O primeiro, um rasgo de luz que cortou o céu da lugar por muito tempo e que ele não soube explicar.
O outro, o desaparecimento de uma hora para outras das verrugas que afligiam as mulheres da vila.
A partir daquele dia, Donana e outra mulheres unidas construíram uma capela dedicada a São Juvêncio, que o Vigário não consagrou, pois havia muitas fotos de Juvêncio Flores, o Cometa de Deus...

Peripécias e o final de Juvêncio Flores





Peripécias e o final de Juvêncio Flores

Pedro Coimbra

Aquele foi um ano de fatos  estranhos na pequenina Riacho das Flores, no pé da Serra Verde.
O primeiro deles uma luz muito brilhante que rasgou o céu do lugarejo e desapareceu com grande estrondo.
Outro, a Donana, uma solteirona que trabalhava com um tear colonial, ter dado a luz a um menino que chamou de Juvêncio.
Professor Carlão, um homem muito sabido, que era considerado o de maior sabedoria na região, disse que não havia nada extraordinário na explosão.
Para ele era a queda de um meteorito, um pedaço dos céus.
Organizou uma expedição e acabou por encontrar o que restava do fenômeno fincado no solo.
E quanto ao parto de uma virgem, o Professor Carlão, não pretendeu dar sua opinião, pois achava que era um fato muito mais complicado que os casos dos céus.
- É uma graça de bebê! – afirmou Dona Zuzu para quem a mãe levou o nascituro para ser benzido contra mau olhado.
Donana, foi pai e mãe de Juvêncio, trabalhando dia e noite, embalando e ninando-o em todos os momentos.
Ah! Um outro fato registrado pelo escrivão Apolino foi que surgiu no nariz das mulheres mais belas do lugarejo enormes verrugas que não desapareciam com nenhuma simpatia...
Donana era uma mulher cheia de virtudes, quitandeira de mão cheia e em sua casa funcionava um salão de beleza.
Juvêncio Flores foi criado no meio da mulherada e mostrou-se desde pequeno um safado de marca maior.
Adolescente tornou-se o cabeleleiro preferido das mulheres de Riacho das Flores e cercanias, envolvendo-se com todos elas.
Num belo dia, quando estava na cama com a esposa de um maquinista chamado Marcos, produziu estranhos grunhidos, ficou roxo e caiu inerte.
- Juvêncio Flores morreu! Juvêncio Flores morreu – saiu gritando a sem-vergonha...
Seu corpo foi levado para a Capela de Nossa Senhora da Conceição, para o velório do queridinho de todos.
Defronte ao caixão o marido traído não tirava os olhos do famigerado.
Nem bem colocaram o caixão sobre cavaletes, ouviu-se roncos e guinchados, e Juvêncio Flores, interrompeu as rezas de Donana e das outras abandonadas.
- Tô é vivo, gente! – gritou nosso herói, assentando-se todo lampeiro.
Foi quando Marcos, o maquinista, que não aceitara os chifres, gritou:
- Morreu sim, vagabundo! – e tirou da cinta um revólver 38.
Despejou uma saraivada de tiros no corpo de Juvêncio Flores, que caiu sobre os lírios brancos que cobriam seu corpo, definitivamente morto.
Naquela noite Professor Carlão registrou alguns fatos estranhos ocorridos em Riacho da Flores.
O primeiro, um rasgo de luz que cortou o céu da lugar por muito tempo e que ele não soube explicar.
O outro, o desaparecimento de uma hora para outras das verrugas que afligiam as mulheres da vila.
A partir daquele dia, Donana e outra mulheres unidas construíram uma capela dedicada a São Juvêncio, que o Vigário não consagrou, pois havia muitas fotos de Juvêncio Flores, o Cometa de Deus...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O unicórnio no jardim




Pedro Coimbra


Once upon a sunny morning a man who sat in a breakfast nook looked up from his scrambled eggs to see a white unicorn with a golden horn quietly cropping the roses in the garden. The man went up to the bedroom where his wife was still asleep and woke her. "There's a unicorn in the garden," he said. "Eating roses." She opened one unfriendly eye and looked at him.

Era uma vez, numa manhã de sol, um homem que estava sentado à mesa tomando seu café da manhã. Num momento, ele olhou dos seus ovos mexidos para fora da casa e viu um unicórnio branco com um chifre de ouro calmamente comendo as rosas do jardim. O homem subiu para o quarto onde sua esposa ainda estava dormindo e a acordou. "Tem um unicórnio no jardim," ele disse. "Comendo rosas." Ela abriu um olho, não muito amigável, e olhou para ele.
O autor deste texto é James Thurber, que um dia, ao jogar "William Tell" com os irmãos perdeu a visão em um olho, quando uma flecha perfurou-o. Em última análise, ele viveria cego dos dois olhos, mas isso nunca o impediu de escrever ou desenhar. Criador de numerosos New Yorker caricaturas/ capa de revista, tornou-se  um dos maiores humoristas americanos do século 20, dono de inimitável prosa e amplitude de gêneros, incluindo contos, comentários moderna, ficção, fantasia infantil e letras.
Mas, por que diabos escrevo hoje sobre James Thurber?  A principal razão é que no meu primeiro livro escolar de Inglês, havia um texto sobre um unicórnio no jardim, talvez uma adaptação do original.
Minha professora era uma senhora de cabelos brancos, Dona Nair Paranaguá, casada com o também professor Tancredo Paranaguá, da Escola Superior de Agricultura  de Lavras (ESAL) e moravam perto do Hospital Vaz Monteiro, numa rua tranquila onde hoje alojam-se várias clínicas e consultórios médicos.
Foi ela quem primeiro percebeu minha dificuldade de ler o que ela escrevia no quadro negro e me disse que pedisse ao meu pai para me encaminhar ao oftalmologista.
Fiz o exame com o Dr. Geraldo Vilela, hoje octogenário, que detectou minha acentuada miopia e recomendou óculos de lentes esverdeadas.
Não me esqueço do dia que fui buscá-los na tradicional Joalheria Mesquita, na Rua Raul Soares e os coloquei pela primeira. Aquela “cangalha”, como diziam meus colegas, atrapalhava a prática de esportes, mas mudou minha vida que ficou nítida e clara.
Continuei com eles de diversas formas e tamanhos, t entei lentes de contatos e corri de operações corretivas até que tive que fazer uma em razão de um deslocamento de retina no olho direito.
Isso foi a mais de setes anos e agora o olho voltou a me incomodar, sinto que não estou enxergando nada na vista operada.
Espero que meu amigo de adolescência, Dr. Oto Metzger, grande médico das doenças dos olhos se recupere de um problema médico que o atingiu e possa me examinar. E conversarmos assuntos diversos no seu consultório, como sempre fizemos...
            Tenho medo da cegueira, mesmo lembrando-me do Tio Zequinha, parente do meu pai, que já completamente sem visão saía da Avenida Vaz Monteiro e vinha até nossa casa no centro da cidade ou a casa da minha avó Maria do Rosário...
            Na verdade o que me apavora são episódios como o da cegueira temporária de Saulo de Tarso, o “vaso escolhido” por Jesus para a divulgação do Cristianismo.
            Ou em “Un chien andalou” um filme surrealista dirigido/escrito por Luis Buñuel e Salvador Dalí. A primeira cena mostra uma mulher que tem seu olho cortado por uma navalha por um homem.
Quem sabe nossa incapacidade de enxergar o tal unicórnio e outros seres fantásticos esteja ligada a luta em aceitarmos as coisas mais espirituais, acostumados que estamos a realidade que nos diz que pau é pau e pedra é pedra...

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Um passo de mágica



Pedro Coimbra


 

            M. não chegou ao mundo de maneira tranquila, mas literalmente caindo no chão frio de terra batida do casebre em Vai e Vem.

            Tão fraco e esquálido nem mesmo deu seu primeiro choro e passou a viver as dificuldades deste grande mundo de Deus.

            Dolores, sua mãe apenas o contou como mais um dos seis filhos, todos de pais desconhecidos.

            Por milagre de Nossa Senhora da Conceição sobreviveu se arrastando pelos lugares mais fétidos, beirando esgotos, bebendo água poluída

Vai e Vem era um lugar perdida no sertão do Brasil, com um pequeno amontoado de gente que vivia de expedientes e sobras dos mais abastados.

No passado fora uma importante cidadela na colonização portuguesa e em seu território ocorreram importantes lutas.

Já garoto, fugido da escola, M. andava por todos os morros, serras e campinas, livre e solto.

Certo dia, deitado debaixo de uma grande árvore, viu formarem-se nuvens de muita chuva, com raios e o estrondo de trovoadas.

Um grande clarão de luz caiu sobre M. que foi atirado a distância.

Ficou desfalecido por muito tempo e quando voltou a si, sentiu que coxeava de uma das pernas.

O mais importante é que o incidente parecia ter aberto a inteligência de M., como dizia o Dr. Clarismundo, um advogado beberrão, que vivia na porta do Boteco do Nêgo Véio.

M. disparou a trabalhar a partir daquela data, usando principalmente um dom que todos desconheciam para seduzir as pessoas e fazer bons negócios.

Começou a comprar imóveis e logo diziam que se transformara num agiota de mãos cheias e já acumulava casas, terrenos e mais de vinte fazendas.

Aproximou-se de Gilda, filha de um político arruinado, e conquistou-a com promessas.

“M. é o homem mais rico de Vai e Vem e não para mais”, diziam os falastrões do lugarejo.

Preocupava-se cada vez mais com os negócios e muito pouco com a mãe Dolores e os irmãos.

Só uma coisa chamava sua atenção: os circos mambembes que as vezes apareciam em Vai e Vem ou na região.

M. sentia-se fascinado com os espetáculos, muito mais do que com os programas de televisão onde participavam atores reconhecidos e milionários.

Seus olhos brilhavam com as fantasias das bailarinas, o humor acido dos palhaços, os equibristas e os trapezistas.

O que mais o encantava e deixava sem fôlego era o mistério dos mágicos.

Tantas fez que acabou aprendendo algumas mágicas num dos circos: desaparecendo com o pano; carta furada do espectador e o copo que atravessa a mesa.

M. descobriu que viera ao mundo para se dedicar as mágicas e truques

Numa manhã de um mês de novembro, fechou seu escritório em Vai e Vem, e desapareceu.

Tornou-se Órion, o mágico e sua especialidade tornou-se o número em que serrava a assistente ao meio, até o dia em que tudo acabou terminando em tragédia!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Casos políticos daqui e alhures

 

 

Pedro Coimbra

ppadua@navinet.com.br

 

Terminadas as eleições municipais de 2012, enquanto muitos se debruçam a teorizar como melhorar nosso sistema de representatividade democrática, decepcionados com a aparente renovação das Câmaras de Vereadores, o cronista se debruça em lembranças do folclore político.

Do notável político que foi Israel Pinheiro, forçado a se candidatar ao governo de Minas Gerais, em substituição a Sebastião Paes de Almeida, o Tião Medonho, vetado pela Justiça Eleitoral. Israel Pinheiro, a quem JK delegou a construção de Brasília, foi um dos personagens mais caluniados e difamados do seu tempo. Em 1968, na inauguração de uma estrada próxima a Bocaiúva, o fotografei tentando visualizar os sapatos, o que a proeminente barriga já impedia. Morreu pobre para desilusão de seus desafetos políticos.

Neste mesmo evento a figura do Coronel Mário Andreazza, cabelos grisalhos,bronzeado, trajando uma legitima camisa Lacoste e fumando cigarros americanos, já proibidos na época. Nadou e morreu na praia, nunca alcançando seu sonho de ser presidente da República.

Bocaiúva era a cidade natal de José Maria Alkmin, raposa da política mineira e brasileira, cuja esperteza foi eternizada pelo jornalista Sebastião Nery, que se especializou no tema do folclore político.

Dele se contava que ao chegar a uma cidade abraçou um eleitor e perguntou pelo senhor seu pai.

Assustado o rapaz respondeu-lhe que seu pai havia falecido há muito tempo.

- Faleceu para você, filho ingrato. Pois permanece para sempre na minha memória – respondeu o esperto José Maria Akmin, para o filho estupefato.

Da mesma época o causo que envolve Negrão de Lima, eleito governador da Guanabara na mesma época que Israel Pinheiro.

Cumpriu seu mandato até os últimos dias, protegido pelo Marechal Castelo Branco, pois teria sido o avalista do seu namoro com Dona Argentina, sua esposa, em Belo Horizonte.

Desta época também a lembrança do jornalista e escritor Sérgio Danilo, que teve um piriqipaqui na Assembléia Legislativa, e foi salvo pelo socorro emergencial do médico e deputado Sylvio Menicucci. Logo depois, o Dr. Sylvio Menicucci fez um pronunciamento contra a cassação de JK e acabou perdendo seu mandato político.

Das lembranças locais, o caso da candidatura do tintureiro e líder dos negros lavrenses, José Anselmo, o "Zé da Lina".

Candidato à vereador de Lavras, no dia da apuração passou defronte ao Forum velho, na Rua Benedito Valadares e um amigo, de uma das janelas do casarão fez-lhe um sinal com o dedo indicador.

- Mil votos? – perguntou "Zé da Lina", exultante.

- Não...Um voto – o outro respondeu-lhe, para sua decepção.

Quase todas as cidades do Brasil contam a história do cidadão que se candidata a vereador, e acaba por ter somente o seu voto, com a ausência do da esposa. Dizem que em Lavras tal deslize acabou em pancadaria.

Dois casos muito lembrados são do vereador que disse, durante uma sessão da Câmara Municipal, que teria deixado alguns papéis importantes em sua Nobre geladeira, e o outro de uma equipe de advogados designados para acompanhar as eleições. Chamados por telefone para comparecer no Paulo Menicucci dirigiram-se ao local onde havia vários pessoas sentadas.

Um dele perguntou:

- Nenhuma normalidade por aqui?

- Tudo tranquilo – respondeu o enfermeiro.

Na verdade estavam no local errado. Ali era a Casa de Saúde Paulo Menicucci e a confusão era na Escola Paulo Menicucci...

E para finalizar, a história de Sineval Godinho, candidato a vereador e cujo nome apareceu em primeiro lugar em uma pesquisa.

No frigir dos ovos, Sineval que hoje faz campanha no céu, foi o último colocado...

Seguindo no trem azul

Estava deitado no sofá, enfrentando a onda de calor repentino, dormitando e ouvindo uma seleção de sucessos do Roupa Nova, banda que surgiu em 1980, e mantém até hoje sua formação original, composta por Paulinho, Serginho Herval, Nando, Kiko e Cleberson Horsth.

            Eles entoavam "Seguindo no trem azul":

"Confessar

Sem medo de mentir

 Que em você

Encontrei inspiração

Para escrever..."

            Olhos entreabertos viram um vulto na poltrona a minha frente, sem camisa, bigode e cabelos grandes, já grisalhos e uma latinha de Bhama na mão.

            - Ô, cara! Acende meu cigarro.

            Era sem dúvida nenhuma, o espírito do meu amigo, Du Venerando, atraído pelo festival de músicas do conjunto que  mais vezes promovera em Lavras, num vídeo perfeito, em que pareciam sair da tevê LED para o ambiente da sala.

            E começou a falar de arranquinho, como era seu hábito, contando-se as aventuras que enfrentara para trazer grandes shows no recém-inaugurado Ginásio Poliesportivo do LTC.

            - Eu trouxe o RPM – ele disse e que era a maior banda do rock brasileiro.

            Pensei em lhe dizer que na atualidade o que estava fazendo sucesso era o talsertanejo universitário, com muitas duplas que faziam sucesso e levavam três vezes mais pessoas aos shows atuais do que os antigos sucessos de antigamente.

            - Você se lembra como transformava a FM Rio Grande, em "Rádio Roupa Nova" ou "Rádio RPM" na semana que antecipava o evento? – me perguntou.

            Um carro de campanha política passou com o som altíssimo o que fez que sorrisse e sua imagem se desvanecesse, ficando apenas sua última imagem e sua voz:

- Vou bater uma bolinha – e com a raquete de tênis sumiu definitivamente.

De tanto conversar com ele sabia que detestava a política partidária, num tempo que lhe cabia carregar um equipamento de som mastodôntico para todos os lugares onde haveria comício e não adiantava tentar discutir nada com o pai.

- Traíram o "velho" – ele dizia justificando para mim a derrota do pai, Leonardo Venerando, considerado sempre como candidato invencível.

Du Venerando  cumpriu também, por alguns anos, a missão de erguer um palanquinho de madeira, na Padaria Rocha, seu "point" preferido, contratar os músicos do Demá e um veículo qualquer que servisse de transporte para os foliões que chegavam de fora para desfilarem na Banda do Funil.

Finalmente, o que era uma brincadeira familiar cresceu tanto que acabou tendo a necessidade de se institucionalizar, o que foi o seu fim.

Daqueles tempos ficaram apenas as lembranças trazidas por uma criatura vinda do mundo dos sonhos e que solfejava:

"Confessar

Sem medo de mentir

Que em você

Encontrei inspiração

Para escrever..."

domingo, 28 de outubro de 2012

A loura que me persegue

 

Pedro Coimbra


 

           

Neste mundão de Deus, segundo afirma meu amigo Bernardo, todos nós temos os nossos perseguidores.

            A mulher de branco é um deles. Aparece a qualquer hora na sua frente, de preferência no banheiro da sua escola, com as narinas tampadas por chumaços de algodão. Só assusta e não fazia mal a ninguém.

         Mas, cada um de nós cumpre seu destino.

         O meu é todas as vezes que tenho que participar de eleições me encontrar com uma loura linda na ante sala da minha seção.

         É muito bonita, elegante e sensual no seu vestido drapeado.

         Todas às vezes me fala em francês, em Liberté, Egalité e Fraternité.

         Quem descobriu quem era foi Bernardo. Chama-se Marianne e representa a República Francesa.

            Ela quer que tenhamos ideais democráticos no meio de tanta confusão ideológica.

            Ideológica, não. Uma verdadeira “república de bananas” em que cada um defende seus interesses pessoais.

            Toas às vezes eu acabo ouvindo seus conselhos e sempre me dou mal.

            Mas, Marianne é uma graça de mulher, um verdadeiro anjo ao meu lado!

            - Acredite que um dia tudo vai mudar e o povo vai saber o porquê de tomar determinadas atitudes – ela diz.

            Sempre digo para ela que temos um sistema informatizado que nem mesmo o USA tem. Mas, nossos representantes são um desastre, bastando verificar o que gastamos para eleger um prefeito do interior.

            - A eleição no Brasil deveria voltar a época da República Velha, com as listas dos coronéis – digo em voz alta.

            É engraçado que o Golpe de 64 não tenha conseguido acabar com as eleições.

            - A continuar do jeito que vai, nós mesmo vamos conseguir acabar com elas – penso em voz alta.

Prefiro Marianne ao curupira que é um ser fantástico, que segundo a crença popular, habita em florestas. É descrito como um menino, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente que confundem os caçadores. Gosta de sentar nas sombras das mangueiras e se deliciar com os frutos.

Nosso grande problema é que não temos mais florestas e nem mangueiras.

Chego bem próximo de Marianne até que ela desaparece no entardecer e fico com minhas dúvidas...

 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Biografias não-autorizadas

 

 

Pedro Coimbra

ppadua@navinet.com.br

 

 

         Terminando a primeira parte do meu romance "Meus amores, Mariana e Bruna" enfrento o problema de criar uma biografia não-autorizada de um personagem chave da história, pois mesmo sendo fictícia tem que ser plausível, caso contrário, tudo pode dar errado.

         Faço isso de olho no julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e principalmente do réu Zé Dirceu.

Ele nasceu em Passa-Quatro, em 16 de março de 1946 e é um político e advogado com base política em São Paulo.

Foi líder estudantil entre 1965 e 1968, ano em que foi preso em Ibiúna, no interior de São Paulo, durante uma tentativa de realização do XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Naquela época, em Belo Horizonte, todos diziam que outro líder e presidente da UNE, Luís Travassos, era muito melhor do que Zé Dirceu., que em setembro de 1969, com mais quatorze presos políticos, foi deportado do país, em troca da libertação do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick.

Foi deportado para o México e mais tarde exilou-se em Cuba, onde. fez plásticas e mudou de nome para não ser reconhecido em sua tentativas de voltar ao Brasil após ser exilado.

Ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), do qual foi presidente nacional durante a década de 1990.

Foi deputado estadual constituinte por São Paulo, e, em 1991, 1998 e 2002 elegeu-se deputado federal. Em janeiro de 2003, após tomar posse na Câmara dos Deputados, licenciou-se para assumir o cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República, no governo Lula, onde permaneceu até junho de 2005, quando deixou o Governo Federal acusado, por Roberto Jefferson de ser o mentor do Escândalo do Mensalão.

Teve seu mandato de deputado federal cassado no dia 1º de dezembro de 2005, tornando-se inelegível até 2015.

O Luís Travassos, que muitos julgavam melhor do que Zé Dirceu foi um líder estudantil brasileiro durante a ditadura militar, preso e deportado do país durante o sequestro do embaixador.

Travassos foi um dos líderes e organizadores da Passeata dos 100 Mil, manifestação popular da sociedade civil que reuniu 100 mil participantes, no centro do Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968, contra o governo militar.

Após dez anos de exílio em Cuba e na Alemanha, Travassos retornou ao país dois meses depois da publicação da Lei da Anistia, em 1979.

Ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) e morreu no Rio de Janeiro, aos 37 anos, vítima de um acidente de carro no Aterro do Flamengo.

Biografia não-autorizada também é a de Dom Pedro I, mulherengo e que segundo Laurentino Gomes, assumiu um país quebrado e as vésperas de uma guerra civil e que acabou dando certo.

Nosso conselho a Zé Dirceu é que entre com os recursos possíveis contra a decisão do STF, cumpra sua pena e desista de manter o PT por anos no poder.

E que se mude definitivamente para São Miguel dos Milagres, em Alagoas e envelheça por entre praias desertas, coqueirais, vilas e um mar verde esmeralda.

Muito melhor do que tentar exercer o cargo de síndico em qualquer lugar do Brasil.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Casos políticos daqui e alhures




Pedro Coimbra






 

Terminadas as eleições municipais de 2012, enquanto muitos se debruçam a teorizar como melhorar nosso sistema de representatividade democrática, decepcionados com a aparente renovação das Câmaras de Vereadores, o cronista se debruça em lembranças do folclore político.

Do notável político que foi Israel Pinheiro, forçado a se candidatar ao governo de Minas Gerais, em substituição a Sebastião Paes de Almeida, o Tião Medonho, vetado pela Justiça Eleitoral. Israel Pinheiro, a quem JK delegou a construção de Brasília, foi um dos personagens mais caluniados e difamados do seu tempo. Em 1968, na inauguração de uma estrada próxima a Bocaiúva, o fotografei tentando visualizar os sapatos, o que a proeminente barriga já impedia. Morreu pobre para desilusão de seus desafetos políticos.

Neste mesmo evento a figura do Coronel Mário Andreazza, cabelos grisalhos,bronzeado, trajando uma legitima camisa Lacoste e fumando cigarros americanos, já proibidos na época. Nadou e morreu na praia, nunca alcançando seu sonho de ser presidente da República.

Bocaiúva era a cidade natal de José Maria Alkmin, raposa da política mineira e brasileira, cuja esperteza foi eternizada pelo jornalista Sebastião Nery, que se especializou no tema do folclore político.

Dele se contava que ao chegar a uma cidade abraçou um eleitor e perguntou pelo senhor seu pai.

Assustado o rapaz respondeu-lhe que seu pai havia falecido há muito tempo.

- Faleceu para você, filho ingrato. Pois permanece para sempre na minha memória – respondeu o esperto José Maria Akmin, para o filho estupefato.

Da mesma época o causo que envolve Negrão de Lima, eleito governador da Guanabara na mesma época que Israel Pinheiro.

Cumpriu seu mandato até os últimos dias, protegido pelo Marechal Castelo Branco, pois teria sido o avalista do seu namoro com Dona Argentina, sua esposa, em Belo Horizonte.

Desta época também a lembrança do jornalista e escritor Sérgio Danilo, que teve um piriqipaqui na Assembléia Legislativa, e foi salvo pelo socorro emergencial do médico e deputado Sylvio Menicucci. Logo depois, o Dr. Sylvio Menicucci fez um pronunciamento contra a cassação de JK e acabou perdendo seu mandato político.

Das lembranças locais, o caso da candidatura do tintureiro e líder dos negros lavrenses, José Anselmo, o "Zé da Lina".

Candidato à vereador de Lavras, no dia da apuração passou defronte ao Forum velho, na Rua Benedito Valadares e um amigo, de uma das janelas do casarão fez-lhe um sinal com o dedo indicador.

- Mil votos? – perguntou "Zé da Lina", exultante.

- Não...Um voto – o outro respondeu-lhe, para sua decepção.

Quase todas as cidades do Brasil contam a história do cidadão que se candidata a vereador, e acaba por ter somente o seu voto, com a ausência do da esposa. Dizem que em Lavras tal deslize acabou em pancadaria.

Dois casos muito lembrados são do vereador que disse, durante uma sessão da Câmara Municipal, que teria deixado alguns papéis importantes em sua Nobre geladeira, e o outro de uma equipe de advogados designados para acompanhar as eleições. Chamados por telefone para comparecer no Paulo Menicucci dirigiram-se ao local onde havia vários pessoas sentadas.

Um dele perguntou:

- Nenhuma normalidade por aqui?

- Tudo tranquilo – respondeu o enfermeiro.

Na verdade estavam no local errado. Ali era a Casa de Saúde Paulo Menicucci e a confusão era na Escola Paulo Menicucci...

E para finalizar, a história de Sineval Godinho, candidato a vereador e cujo nome apareceu em primeiro lugar em uma pesquisa.

No frigir dos ovos, Sineval que hoje faz campanha no céu, foi o último colocado...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Voltar no tempo


Pedro Coimbra

ppadua@navinet.com.br




Desde que recentemente eu disse que todo escritor era um mentiroso, as pessoas andam olhando-me de esguelha, como se eu fosse um mitomaníaco constantemente a espreita para atacar a dura realidade.

Outra dia contei para o repórter Marco Aurélio Bissoli sobre o dia em que estava no apartamento do cineasta Mario Fiorani e da Marilu, sua mulher, localizado na Rua República do Peru, em Copacabana.

Que era sábado, tenho certeza, porque os “open bar”, verdadeiras baladas, só aconteciam neste dia da semana.

Das mulheres não se exigia nada, a não ser beleza, inteligência e dos homens um litro de qualquer bebida.

O apartamento era enorme, construção antiga, do início dos anos cinquenta.

Os grandes temas eram o cinema, teatro e música. Naquele espaço davam o “ar da graça” gente de cinema, das artes dramáticas, cantoras e cantores, agitadores culturais e políticos, o que fazia dali um “point” conhecido no Rio de Janeiro.

Certo dia, flanava eu por ali, quando alguém, se lembro bem, o cineasta Leon Hirzman, autor de “A falecida”, mais um pequeno grupo me convidou para acompanhá-los a um apartamento onde iriam ouvir uma audição de uma cantora baiana recém chegada à Cidade Maravilhosa.

Jovem e com algum outro interesse imediato em algum “rabo de saia” agradeci o convite e fui fazer um “tour” pela sala.

Ao voltarem me disseram que a moça era muito tímida, cantava tão bem como João Gilberto e se chamava Maria da Graça...

- Meu Deus!- diz Bissoli, que chama Caetano de Caê e Milton Nascimento de Bituca – A maior cantora do Brasil! Maior do que Elis Regina... – ele diz.

E deve estar pensando até hoje como perdi essa oportunidade de conhecer Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gal, em começo de carreira e sem toda aquela “proteção” que é dispensada as estrelas.

Reviver fatos do passado sempre é bom, como aconteceu reencontrar depois de anos Aloísio Teixeira Garcia, ícone da nossa juventude como militante do movimento estudantil em Minas Gerais.

Na vida pública, foi Secretário da Educação e da Cultura, Presidente da Cohab, do IBC, da UMA Centro Universitário e da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu.

É também membro da Academia Mineira de Letras e Cultura de Minas Gerais e presidente da Federação das Academias de Letras.

Muito simpático, Aloísio, filho do farmacêutico Antônio Teixeira, de quem meu pai alugou um andar do sobrado abaixo da Padaria Rocha, nos idos de 61, me encaminhou um livro singelo, com oitentas páginas, intitulado “Poesias tardias”.

Na apresentação ele fala sobre o Gammon, as 13 disciplinas que faziam parte do nosso dia a dia, do meu tio Roberto Coimbra, Mestre em Português e de suas peripécias no tempo em que era presidente da União Colegial de Minas Gerais (UCML) e um pouquinho de nada de sua vida naquele tempo de radicalismo.

Mostra também que ser político e gestor não significa colocar uma pedra sobre arroubos do espírito e verseja tranquilidade ao dizer: “Há grandes vícios/que levam a precipícios./Há lugares ermos/onde só ficam enfermos.../O juiz tira a toga da razão/e o inocente só tem ali desilusão!/Vivi tempos de gloria/e deles tenho na mente a memória.”

Vale, e

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Superação



Pedro Coimbra
ppadua@navinet


            Desde garoto me tornei reconhecido como um “manteiga derretida”, um chorão, que deixava extravasar suas emoções mais intimas a qualquer momento.
            E também a constatação de ser um individuo sedentário, que se movimentava pouco, numa adolescência no Instituto Gammon, onde a visão que se tinha era de jovens se movimentando a todos os momentos para algum lugar ou lugar nenhum.
            E a bem da verdade morava no meu corpo um DNA não vislumbrado que fez com que meus filhos, Rodrigo e Ricardo, fossem notáveis jogadores de basquetebol.
            Com o passar dos anos passei a disfarçar estas atitudes sentimentais ou sentimentalóides, mas  constatei recentemente que o episódio de abertura de um grande evento como as Olimpíadas ainda me faz ficar emocionado.
            Pelo menos naqueles fugidios momentos, parece que somos todos irmãos, congregados na prática do bem, da solidariedade e amizade entre os povos.
            A origem dos jogos desportivos se perde na História da Civilização e eles se firmam na Grécia Antiga e em Roma como uma prática do Ser Humano para superar a si mesmo e realizar nosso sonho maior de nos igualarmos aos deuses.
Os Jogos Olímpicos Moderno surgem em Atenas, pela ação do francês Pierre de Fredy, conhecido com o barão de Coubertin e cada vez mais estão distanciados dos seus propósitos iniciais de união dos povos e raças.
Hoje são dominados pelos interesses comerciais dos grandes grupos econômicos e pelo poder da mídia e quase ninguém presta atenção ao lema "Citius, altius, fortius" (mais rápido, mais alto e mais forte) proposto por Pierre de Coubertin.
Fico a pensar se estes são os grandes motivos da minha emoção, ou lembrar que em 2016, as Olimpíadas programadas para a cidade do Rio de Janeiro podem até mesmo não ocorrer, por nossa reconhecida incapacidade de cumprir metas estabelecidas e pela corrupção que permeia nossas entidades desportivas, quiçá toda a sociedade brasileira.
Me emociono também ao constatar que ainda existem pessoas, como os professores Fernando de Oliveira e Ricardo Pacheco que acreditam no poder do esporte em transformar as pessoas e melhorar os relacionamentos neste mundo conturbado.
E não há como deixar de matutar que apesar das estatísticas que me são favoráveis, as Olimpíadas de Londres 2012, evento que ocorrerá até 12 de agosto, podem ser o último da minha existência.
Afinal de contas, até mesmo um grande atleta, como era o Admilson Chitarra, não recebeu a benevolência dos deuses e nos deixou prematuramente. Ele que resolveu, não sei por que, treinar uma equipe de basquetebol da qual faziam parte amigos que já se foram, como Januário, Nanato e eu, entre outros. Dias alegres!  E acreditem, naquela equipe eu jogava muito bem e era craque.
Enquanto isso, vitimado pela falta de condicionamento físico e por um nervo ciático que dói como o Cão, passo após anos de ostracismo, a frequentar uma academia, preocupado com meu conforto no dia a dia.
Que os deuses que controlam músculos, tendões e ossos tenham dó deste pobre mortal, é o que desejo.
Que saibam que não tenho a mínima intenção de me igualar a eles e sim de poder carregar esta carcaça velha com um mínimo de decência.

sábado, 7 de julho de 2012

A química de cada um de nós




Pedro Coimbra

            Miúcha me disse, num final de semana passado em Monte Verde, que o que nos unia era a química.
Será verdade? Pesquiso e constato que o corpo humano é composto por 21 elementos da Natureza, que talizam 96. E que 95% da massa corporal é formada por 4 elementos: oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio.
Enquanto Miúcha e eu rolamos pela cama e pelos tapetes vermelhos raciocino se esses elementos presentes em mim são capazes de substituir o que chamamos de afetividade.
Minha tia Tetê, uma solteirona de mão cheia, funcionária aposentada da Caixa Econômica Federal, tornou-se uma espécie de protetora da família e guru sentimental.
Diziam, e as fotos não desmentiam, ter sido uma das mulheres mais bonitas da cidade.
Teve só um grande amor, Lipinho, nomeado Fiscal de Rendas, sem concurso, por políticos. Era o que chamavam então de “pé de valsa” e todos diziam que ele e Tetê haviam nascido um para o outro.
Seria essa a tal química perfeita?
Tia Tetê não gostava de conversar no assunto, principalmente como Lipinho desaparecera de sua vida.
Tudo acontecera numa terça-feira, e por isso ela detestava esses dias da semana.
O melhor dançarino da cidade, sua paixão, fez as malas, abandonou um emprego duradouro, tomou a “jardineira” para a Capital e foi se refestelar nos braços de Mercedes, uma dançarina espanhola que morava na Casa da Zezé, o mais famoso prostíbulo de Minas Gerais.
            Para uma sobrinha mais espevitada que insistiu muito ela contava como tudo tivera fim.
            Mercedes não era uma mulher para um homem só e corneava Lipinho a torto e a direito.
- Ia além de suas funções de mulher dama – explicava ruborizada tia Tetê.
Numa noite de lua cheia, Lipinho estava bebendo um chope na Cantina do Lucas, no Maleta, quando entrou um tal de Dudu.
Os dois eram muito fortes e logo batiam boca por Mercedes, até que Dudu sacou um revólver e crivou Lipinho com vários balaços.
- Testemunhas disseram que Lipinho se arrastou ainda até a esquina da Avenida Augusto de Lima e Bahia antes de morrer – dizia com lágrimas nos olhos.
Foi ela quem pagou o translado, velório e enterro com um terno novo, guardando no seu breviário uma recordação da Missa de Sétimo Dia que mandou rezar na Igreja das Mercês.
- Mas, tia, existe a química no amor, ou não?
Antes que responda chego a conclusão que a afirmação é uma grande balela e que o amor está mesmo condicionado a nossa empatia pelo outro, nossa capacidade de dividirmos emoções e aí, deixarmos que funcionem aquelas  nossas glândulas animais primárias.
Essa história da química de cada um de nós é apenas uma maneira de escamotearmos as verdadeiras virtudes necessárias a longevidade dos nossos relacionamentos.
Ah! E para terminar vou atrás de alguém que supra a minha falta de lítio...
Pois,  como diz a poeta Cláudia Banegas, “ Para amar é necessário apenas ter um coração... sem mais, nem menos.”


segunda-feira, 4 de junho de 2012

A voz do coração


ppadua@navinet.com.br

No meu compêndio de Ciências estava escrito, e eu decorei, que o Corpo Humano dividia-se em cabeça, tronco e membros.
A meninada vivia quebrando ou fraturando os membros na traquinagem.
Acabavam com talas de bambu, cobertas por grossas camadas de gesso. Se o profissional fosse bom de serviço não haveria problema. Caso contrário seguiam a vida inteira com braços ou pernas tortas.
Mais tarde aprendi que a pele era o maior dos órgãos do nosso organismo e que só nela existiam mais de 2500 doenças catalogadas.
Outros órgãos para nós eram de pouca valia, a não ser o tal fígado que chiava quando enchíamos a cara com bebidas alcoólicas mais ou menos finas.
O cérebro que se alojava dentro do crânio comandava todos os sistemas, até mesmo o coração, que se caracterizava como um músculo poderoso, fonte vital da vida.
Do cérebro aprendíamos muito pouco e passávamos longe das sinapses que se caracterizavam por fazer a transmissão de um impulso nervoso de um neurônio para outro, e que podiam ser químicas ou na sua grande maioria, elétricas.
Explicava-se também pouco que nosso sistema fonador não era especializado para a fala, mas sim para funções vitais como mastigar, engolir, respirar ou cheirar e que com  a necessidade da comunicação o homem “descobriu” primeiramente a possibilidade de produzir sons com significado e logo depois o canto.
De todas estas coisas que aprendemos aos pouquinhos via difusão médica a que mais estranhou foi saber que nossa morte e o nosso renascimento se iniciava na própria concepção e continuava com uma incessante substituição de células velhas ou “estragadas” até o último minuto de nossa presença no Planeta Azul.
Dia desses fui visitar uma jovem amiga que há mais de sessenta dias luta para sair de próximo a uma UTI e retornar a sua vida normal, seus alunos, suas batucadas.
Detesto hospitais, seu odor, suas pinturas, mas fui visitá-la.
Abri a porta e logo a vi deitada numa cama, de olhos abertos, ligada à tubulação de oxigênio, defronte uma tevê.
Entrei no seu campo de visão, mas ela não demonstrou estar me vendo.
Foi então que senti uma voz diferente, sair do meu corpo e dirigir-se até o dela, desejando suas melhoras.
Um espaço de tempo pequeno que pareceu durar toda uma eternidade.
Antes que sua acompanhante saísse do banheiro onde se encontrava, senti uma verdadeira comunhão com o sofrimento daquela minha irmã que precisava se restabelecer e voltar a nos dar sua alegria, por mais difícil que isto fosse.
Ao sair do quarto, descer o elevador e pelo hall de entrada atingir a rua, fiquei a pensar no que me ocorrera naqueles poucos minutos.
Poderia ter orado pela sua volta a esta nossa dimensão.
Ou ter deixado extravasar um sentimento qualquer, de dó, piedade ou comiseração.
Entendi que apesar de não abrir em nenhum minuto os meus lábios, deixara sair do meu corpo até o dela a minha voz do coração...
Uma voz que não depende do aparelho fonador e nem mesmo do coração, pois vem de dentro do nosso corpo como uma energia indescritível.
Mal comparando é como os resultados da adrenalina nos esportes radicais.
Que o pouco tempo que passei ao lado da jovem doente lhe tenha sido tão benéfico como foi para mim.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Zinho e suas notícias





Pedro Coimbra

            Zinho dizia que havia nascido numa cidade litorânea que ninguém sabia qual era.
Andava trôpego, como se fosse o andar de um marinheiro e contava que tinha sido taifeiro.
- Isso é importante? – queria saber Creusa, mulata por quem Zinho era apaixonado.
No seu dia-a-dia se especializara em casos assustadores.
- Sabe da última? O Benvindo pedreiro escorregou na lama e caiu do andaime da obra em que trabalhava...
- Morreu?
- Ficou fincado na terra até os cotovelos. Dra Jerusa disse que não anda nunca mais....
As pessoas sabiam do que gostava e o provocavam:
- Qual a última, Zinho?
Ele olhava pro céu azul, pensava um pouco e respondia:
- A Polícia prendeu um tal de Heleno, lá pras bandas do Floresta...
- O que ele fez?
- Suspeitam que matou a mulher a facadas diante dos cinco filhos...
Andava por toda a cidade, conversava com todo mundo, parecia esquecer em um minuto qualquer boa nova.
- Descobriram um bando de garotas especializadas em roubar motoristas de carretas – ele contava – Roubavam, matavam e jogavam o corpo na beirada da estrada.
Suas histórias não se sabia onde haviam acontecido, se ali perto ou em qualquer outro lugar.
Zinho era um agourento e o próprio Padre Carlos uma vez o chamou e repreendeu seu comportamento.
- Uma pessoa não pode viver assim, Zinho! – disse o sacerdote.
Ele prometeu que mudaria seu jeito de ser. Não passou mais de uma hora, sentado no botequim da esquina, contava para uma pequena plateia o caso do filho que matara a mãe, por uns míseros tostões para comprar droga.
- Isso aconteceu aqui, Zinho?
- Em todo lugar, em todo momento – ele respondia com um muxoxo – O mundo está perdido!
E saia procurando outros ouvintes e outras notícias.
Gostava muito também de lembrar o grande navio que afundara, em que mais de mil pessoas morreram.
- Por que acontecem tragédias como essas? – alguém queria saber.
- São desígnios de Deus... - respondia Zinho.
Creusa acabou por lhe dar uma reprimenda;
- Você precisa mudar seu jeito de ser – ela disse – Ou pode desistir de ficar comigo.
Zinho prometia que ia mudar sua maneira de ser, que iria se preocupar com as boas coisas que aconteciam neste mundo de Deus.
Saia entristecido e se encontrava com alguém que lhe contava que na madrugada havia acontecido um sério acidente de carro.
- Quantos morreram? – queria saber Zinho.
Se dissessem que não havia vítimas, desinteressava pelo assunto.
A única má notícia que Zinho não pode contar para os outros foi o da sua morte, vitimado por um prosaico AVC...

sábado, 31 de março de 2012

A terra de ninguém não existe mais


Pedro Coimbra
ppadua@navinet.com.br


O termo "terra de ninguém" é indicativo do território onde as leis não prevalecem, e que mocinhos e vilões, sem nenhuma ética ou moral, exercem um poder solitário.
Todos nós temos lembranças de centenas de faroestes em que o cowboy não cumpria preceitos do bem viver em sociedade.
Na verdade a civilização passou a existir a partir do momento em que os indivíduos passaram a ser julgados por seus atos. Antes disso matava-se um ou mais homens e simplesmente os jogava numa vala a beira do caminho. As vítimas nunca mais eram encontrados e os assassinos seguiam sua vida calmamente.
A sociedade moderna, baseada em preceitos helênicos e romanos universalizou o conceito de justiça e sua aplicação.
Quando dizemos que somos favoráveis a “liberdade de expressão” de toda a mídia, isto não significa um anarquismo total, mas que temos o direito de expor nossas ideias e nos responsabilizarmos por isso.
No início a Internet era simplesmente um sistema de comunicações que interligava bases americanas no mundo inteiro, a despeito da existência física do Pentágono ou não. Depois passou para as comunidades cientificas e dali para as universidades. Neste trajeto criou-se a imagem que a Internet poderia ser usada de qualquer forma, aparte do arcabouço jurídico e das leis que nos governam. Um mundo essencialmente marginal.
Mas vejamos alguns exemplos de que isso é uma grande falácia.
O jornalista Paulo Henrique Amorim fez colocações em seu blog sobre o apresentador Heraldo Pereira, que recorreu a Justiça, sendo que PHA deverá doar uma quantia a uma entidade filantrópica indicada por Heraldo, e aceitado uma conciliação entre PHA e Heraldo agora  em 15 de fevereiro de 2012. Nela Paulo Henrique Amorim reconhece Heraldo Pereira como jornalista de mérito e ético; que Heraldo Pereira nunca foi empregado de Gilmar Mendes; que apesar de convidado pelo Supremo Tribunal Federal, Heraldo Pereira não aceitou participar do Conselho Estratégico da TV Justiça; que, como repórter, Heraldo Pereira não é e nunca foi submisso a quaisquer autoridades; que o jornalista Heraldo Pereira não faz bico na Globo, mas é empregado de destaque da Rede Globo; que a expressão ‘negro de alma branca’ foi dita num momento de infelicidade, do qual se retrata, e não quis ofender a moral do jornalista Heraldo Pereira ou atingir a conotação de ‘racismo’. Tais declarações terão que ser publicadas em orgãos de imprensa de grande circulação. O jornalista Paulo Henrique Amorim é um renomado jornalista e como se vê foi flagrado em delito na própria “terra de ninguém”...
Nesta semana mesmo um blog cuja origem é o Sul do País foi denunciado pelo Ministério Público Federal que solicitou a detenção dos autores de seus conteúdos claramente defensores da homofobia e do preconceito racial.
O anonimato na Internet não existe e mais dia, menos dias, com menos ou maior empenho descobre-se os autores seja do que for por seus IP´s.
Constantemente redes de pedófilos, no Brasil e no Mundo, tem sido desbaratadas através da Internet.
No Orkut foram inúmeros os casos de ofensa moral punidos.
Quem é pré-candidato a qualquer cargo público deve prestar muito a atenção, pois as redes sociais só podem ser utilizadas a partir de 6 de julho  de 2012.
Ás redes sociais, como Orkut, Twitter, Facebook, não estão ainda suficientemente testadas em eleições no Brasil, o que é comprovado pela Abranet – Associação Brasileira de Internet.
O comportamento correto quando se perceber uma ofensa grave na rede de computadores é denunciá-lo ao Ministério Público, Polícia Federal ou delegacia especializada em crimes virtuais.
Enquanto isso revejo uma verdadeira “terra de ninguém”, num western spaghetti dirigido por Sergio Leone, ntitulado C'era una volta il West/Once Upon a Time in the West/;Era uma Vez no Oeste. Era uma vez no oeste conta a história da ex-prostituta Jill McBain (Claudia Cardinale), o bandido Cheyenne (Jason Robards), o pistoleiro Frank (Henry Fonda), e um homem misterioso que sempre traz consigo uma gaita (Charles Bronson). Não vou contar todo o filme e registro que ele é um retrato da Moral e Ética só para americanos verem com ausência total de justiça formal...